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22 de abril de 2025

Leme

 

Editora Todavia

Madalena Sá Fernandes, em capítulos curtos, nos conta suas lembranças de infância, principalmente da relação abusiva de um homem com sua mãe e com ela mesma - era abuso físico e emocional, sofrido, longo, contemporâneo.

Passei metade do livro pensando: "por que elas não vão embora?????" ao mesmo tempo entendendo o que prendia a mãe, a dependência emocional, a insegurança - mesmo que a autora não tente explicar a mãe, mas sim mostrar o seu amadurecimento ao longo dos anos em que morou com esse canalha.

É um livro muito bonito - e essa edição disponível no Biblion é a de Portugal, com suas pequenas diferenças que deixam o texto levemente não familiar, causando também esse desconforto e um tanto de encantamento. 

20 de abril de 2025

O que é uma família?

 

Editora Monergismo

Ao ler o começo do livro "O que é uma família?" da Edith Schaeffer, comecei a me sentir num manual para esposas se tornarem dignas da trend #tradwife. É algo bem incômodo para mim, principalmente ao considerar que o livro foi escrito 50 anos atrás por alguém que vivia no bucólico interior da Suiça - o que é essa idealização do passado, gente? Cadê o equilíbrio?

 Aí começou um exercício de separar o que é bom e o que não serve para mim - há muito da experiência de uma mãe de 4 crianças, avó de muitas outras, fundadora do L'Abri que é um ministério de hospitalidade e estudo de teologia que eu admiro demais (já fui aqui no Brasil!).

É um livro inspirador que ajuda a refletir sobre o que é importante numa família, mesmo que eu não concorde com todos os métodos dela (assim como não acho que participar do L'Abri é para todo perfil de pessoas). 

O livro está baseado em princípios cristãos, e há citações de versículos - mas em certo momento coloca o "morar numa fazenda e ser quase autossustentável" como ideal - sendo que estamos caminhando para viver com Deus numa cidade (ver Apocalipse) e não voltar para o Jardim do Éden... Cadê o equilíbrio?

Edith Schaeffer trouxe o melhor da experiência e sabedoria dela para esse livro, e é bom nos aproximarmos dele também com a nossa experiência e sabedoria.

19 de abril de 2025

10 minutos e 38 segundos neste mundo estranho

 

Editora Harper Collins

Neste livro de Elif Shafak, acompanhamos os últimos 10 minutos e 38 segundos da vida de Leila Tequila, uma mulher em Istambul - lembrando de vários eventos de sua vida, e apresentando seus 5 amigos. Na metade seguinte do livro, os amigos lideram a narrativa nos desdobramentos após a descoberta da morte dela.

Rico em detalhes - cores, aromas, sensações - este mundo estranho nos é apresentado, um retrato contemporâneo da Turquia, e também sobre as amizades que são feitas pelo caminho. Tem umas partes bem pesadas - tive até que ler outro livro mais leve no meio - mas é muito bom.


13 de abril de 2025

Teto para dois

 

Editora Intrínseca

Nada como um livro de chick lit para uma leitura leve - embora esse "Teto para dois" tenha um relacionamento abusivo (da personagem principal com o ex-namorado) - eu li praticamente em 24h, o típico livro com capítulos curtos e leitura fluida super difícil de parar de ler.

Eu fiquei com vontade de ler outros livros da Beth O'Leary, bobo, mas bem construído e você não fica com vontade de matar o autor enrolando a história, mas também não fica insatisfeito de ser um livro muito curto. Entrega o que promete!




11 de abril de 2025

A Construção da Feminilidade Bíblica

 

Editora Thomas Nelson 

O livro de Beth Allison Barr fala a que veio no subtítulo: "como a submissão das mulheres se tornou a verdade do Evangelho", e é um dos livros mais esclarecedores que eu li nos últimos anos sobre o tema. 

A autora é historiadora (com mestrado e doutorado) em história medieval, mas também é cristã, e foi construindo sua caminhada alimentando esses "dois lados", o que sabemos por todos os momentos em que ela é vulnerável e se coloca nesse livro. 

Assim, vamos vendo como o papel da mulher em relação a igreja cristã mudou ao longo dos séculos, considerando tanto  os fatores internos como externos a religião, e como o que conhecemos no contexto reformado de igreja ocidental hoje é muito mais recente e não algo normal aos fiéis desde a época de Cristo.

Numa mistura de experiência pessoal, pesquisa histórica e teologia, o livro poderia ser um pouco mais claro nos pontos que faz, mas chegamos ao final sabendo que há algo estranho sim nessa construção da feminilidade bíblica e que precisamos de respostas melhores sobre alguns textos bíblicos... Meu estudo sobre esse assunto vai continuar.


9 de abril de 2025

Feliz Ano Novo

 

Editora Companhia das Letras

O livro "Feliz Ano Novo" de Rubem Fonseca foi censurado logo após seu lançamento, na época da ditadura militar - e não por ser contra o governo, mas por conta da moral e dos bons costumes. A maior parte dos contos inclui homens assassinando mulheres por diversos motivos, inclusive hobby e loucura. Mesmo mais de 40 anos depois, não parece longe do que sai como notícias de feminicídio no Brasil. 

São histórias chocantes e cruas, incômodas, e infelizmente muito perto da realidade.

8 de abril de 2025

O Castelo Branco

 

Editora Companhia das Letras

Eu não gostei tanto do livro "Neve" de Orhan Pamuk, mas gostei muito de "O castelo branco", um livro mais curto e ágil, com uma trama mais resolvida. Nessa história que se passa no século XVI, um veneziano é escravizado por turcos e torna-se servo de Hoja, um estudioso que, de maneira muito curiosa, é muito parecido com ele. 

Tem-se o choque entre as diferentes culturas - oriental e ocidental - e o estranhamento entre os dois vai nos levando junto para esse estranhamento de cultura separada por tantos séculos. Há uma pandemia! E agora que passamos por uma, fico chocada como é um evento tão comum ao longo dos séculos para a humanidade.

Esse livro foi tema do clube do livro da livaria da Travessa em Alphaville e foi muito boa a discussão também. Recomendo!


6 de abril de 2025

As coisas que perdemos no fogo

 

Editora Intrínseca

"As coisas que perdemos no fogo" não é um título maravilhoso?

Mariana Enriquez escreve contos de terror - algo de sobrenatural, algo de violência urbana, um retrato peculiar e não turístico da Argentina moderna.

São histórias interessantes, mas não tão horripilantes assim... O pior momento está relacionado a uma aflição imensa que eu tenho de unhas, hahahaha. Então fica aí esse alerta de gatilho.



12 de janeiro de 2025

A morte tem 7 herdeiros

 

Editora Moderna

Eu guardei meu exemplar de "A morte tem 7 herdeiros" por quase 30 anos, e este ano finalmente foi compartilhado com as minhas filhas: um livro de mistério antes de ler Agatha Christie, pensava eu. Eu lembrava que era claramente uma homenagem - ela é citada na história! - afinal quem matou o patriarca da família entre tanta gente interessada na herança?

Mas o livro é um pouco confuso, vai morrendo gente, e a gente se perde entre tantos personagens, e é uma farsa, e eu acho que pré-adolescentes não conseguem apreciar isso, de certa forma. As minhas duas garotas leram (quase 10 e quase 12 anos), mas definitivamente não foi o sucesso que eu imaginava (nem para mim, tanto tempo depois).



7 de janeiro de 2025

O Empyriano

Editora Minotauro

Fui pega pela série da Quarta Asa. Uma amiga me deu o primeiro livro: vamos ler, o último da trilogia sai em janeiro.

Chega janeiro, e a trilogia vira uma série de 5 livros, sem data de publicação dos dois últimos.

Agora já era.

Livros típicos de romance + fantasia:

- uma protagonista linda, inteligente, frágil, determinada, escolhida, líder, etc, etc

- um interesse romântico lindo, inteligente, determinado, apaixonado, etc, etc

- um mundo realmente bem construído - com dragões!!!!

600 páginas cada que são possíveis de ler em um final de semana sem compromissos, ou uma semana com intervalos típicos de vida adulta.

É entretenimento, minha gente.



 

O Fazedor de Velhos

 

Editora Companhia das Letras

O livro "O Fazedor de Velhos" foi lançado em 2008 e nas descrições que eu li na internet é um romance de formação (coming of age), sobre um garoto de 18 anos que não gosta da faculdade de história e não sabe o que fazer. Ele é apresentado então a um professor de histórias mais velho que se torna seu mentor, passando tarefas e lições de vida.

Eu pensei, a princípio, que era a história verdadeira do autor Rodrigo Lacerda (ah, essa moda atual de auto ficção), mas o personagem chama Pedro e aí percebi que era só ficção mesmo.

O livro ganhou o prêmio Jabuti de melhor obra juvenil, então deve fazer mais sentido para adolescentes mesmo, porque tudo parece bem dramático demais, aquela crise existencial de perder o grande amor e não saber o que fazer da vida.


3 de janeiro de 2025

Enquanto houver limoeiros

 

Editora Verus

A canadense Zoulfa Katouh, filha de sírios, escreveu esse livro - uma mistura de romance Young Adult e relato de guerra - para falar sobre a Revolução Síria que estourou na década de 2010, e esteve nas notícias no final do ano passado.

Apesar de ser uma história ficcional, tanto a violência como o sofrimento da população são relatados de maneira bem gráfica, e foi bem difícil ler o livro todo.

É interessante ver um romance jovem em outra cultura, mas os personagens são simples e há partes da trama claramente forçadas. 

Assim, é difícil recomendar esse livro porque precisa ter estômago, mas a construção da história parece para adolescentes / jovens adultos. 




2 de janeiro de 2025

Lia

 

Editora Companhia das Letras

No ano que a minha Lia faz 10 anos, o meu primeiro livro é esse mesmo - comprado não só pelo título, mas porque admiro Caetano W. Galindo faz um tempo, do blog da Companhia das Letras, entrevistas e podcasts. 

O autor logo explica que essa obra começou como folhetim - capítulos publicados num jornal independente e, ao longo do tempo, cada leitor iria conhecer (construir?) a Lia. Com tamanha liberdade, é gostoso de ver a experimentação de cada parte, são diferentes narradores e tipos de textos, diferentes visões da mesma personagem - e até do autor (será o autor mesmo?) se posicionando em um ou outro trecho. 

Eu gostei bastante, apesar de descobrir que o nome da personagem é Lucília, e recomendo para quem não se incomoda com uma literatura menos convencional.