28 de outubro de 2024

Possession

 

Editora Vintage

Possessão foi escrito pela autora A. S. Byatt, e na capa dessa edição, além de dizer que ganhou o Booker Prize, fala que o livro é um "tour de force". Lá pelas tantas, comecei a achar que isso queria dizer simplesmente que o livro é realmente muito complexo.

A sinopse é simples: dois jovens acadêmicos descobrem através de documentos o romance entre dois poetas vitorianos - um mais famoso, casado, e uma cuja obra estava começando a ter mais relevância, ainda com a fama de ser lésbica por morar com uma amiga e não ter casado.

Mas ao decorrer da história, temos o ponto de vista do pesquisador do poeta, da pesquisadora da poeta, as próprias obras poéticas vitorianas, cartas de um, de outro, da esposa, da amiga, dos críticos atuais - é tanto narrador para a história, que a cada começo de capítulo é preciso se localizar.

Além disso, apesar do meu inglês ser muito bom achei difícil aproveitar mesmo as poesias. Embora a maioria estivesse no contexto (ou seja, você descobre algo sobre o poeta, aí vem o poema que é possível interpretar a luz do que você descobriu), o vocabulário e o formato dificulta bastante o entendimento.

Lá pela metade, eu estava me arrastando pelo livro - mas então parece que ele acelera, engrena, fica muito mais emocionante mesmo - e sim, claro, porque falamos mais sobre o romance tanto no passado como nos tempos atuais (principalmente no passado). De 3 estrelas, o livro passou para 4 estrelas.

Aí, praticamente no final, na última cena mesmo, acontece algo tão doce e bonito, um quentinho tão bom no coração, que eu tive que dar 5 estrelas.

Vale mesmo 5 estrelas ou foi empolgação? Poucos, pouquíssimos, saberão.




25 de outubro de 2024

As Abandonadoras

 

Editora Zahar

Mães são tão valorizadas hoje em dia (e talvez por toda a história), que é difícil até conceber que algumas delas abandonam seus filhos espontaneamente. Neste livro, a jornalista (e mãe que não abandonou seus filhos) Begoña Gómez Urzaiz traz relatos sobre as pessoas reais e personagens fictícias que são "As abandonadoras".

O subtítulo do livro é mais esclarecedor: "Histórias sobre maternidade, criação e culpa", e nisso já embarca praticamente todas as mães modernas - ainda mais numa época de rede social propagandeando níveis surreais de maternidade para todos os lados (que a autora inclusive cita no livro). 

Eu gostei muito de ler o livro, compartilhei os "e se" da autora na vida dessas mulheres, imaginei eu mesma vivendo em outras épocas e lugares e, é claro, suspirei aliviada de ser uma mãe melhor. Eu estou aqui, não é?


22 de outubro de 2024

Stardust

 

Editora Autêntica Contemporânea

Léonora Miano nasceu em Camarões, e foi educada em francês. Com uma bolsa do governo, foi fazer faculdade na França, e engravidou do seu namorado de adolescência em Paris. Ao saber disso, a mãe do rapaz cortou a mesada, e eles ficaram sem ter onde morar, interromperam os estudos, o relacionamento sofreu - e ela ficou sozinha com a criança pequena dependendo do assistencialismo do governo francês. 

Este livro, Stardust, é baseado em suas memórias dessa época, como foi transitar essa camada escondida da cidade mais turística do mundo, e como é ser mãe solteira em ambiente tão inócuo. É uma história sofrida, que a autora só se permitiu contar depois de tanto tempo - 20 anos depois - e toca temas de vulnerabilidade social, racial, política. 

É uma janela para uma França que vemos pouco daqui.


13 de outubro de 2024

O Auto da Maga Josefa

 

Editora Autêntica

Paola Siviero se deu um desafio: escrever um livro de fantasia com a mitologia local, brasileira. Criou a Maga Josefa, o caçador de criaturas sobrenaturais Toninho, e nos deu esse livro de pequenas aventuras com lobisomem, sereia, chupa cabra, fantasma e até golem. 

Não só o nome, "O Auto da Maga Josefa", remete a "Auto da Compadecida" e outras histórias afins, mas a atmosfera do livro também - que se passa ali na década de 60, no interior do nordeste. Embora com riscos de vida e personagens que dão medo, é um livro divertido, leve, e, então eu acredito que pode ser lido até por crianças mais velhas. 

É uma boa oportunidade para conhecer mais da nossa cultura popular, e se encantar pelas histórias nacionais.

11 de outubro de 2024

Carvão Animal

 

Editora Record

Ana Paula Maia é escritora há mais de 20 anos, ganhou duas vezes o prêmio São Paulo de Literatura, e eu não a conhecia. O que isso fala sobre mim, hein? Ou o que fala sobre a divulgação literária de autoras brasileiras, hein?

Escolhi "Carvão Animal" aleatoriamente entre os disponíveis pelo kindle unlimited, e é uma história sombria, que me deixou desassosegada (palavra muito usada no Desventuras em série que estou lendo atualmente). 

Temos dois homens: um que apaga incêndios e um que trabalha no crematório da cidade. Pouco a pouco, o mundo apocalíptico se descortina, mas sem super-herói hollywoodiano. Parece o interior do Brasil, mas parece muito mais um mundo de "Ensaio sobre a cegueira".

É um tipo de história de terror, mas os monstros são os humanos mesmo.


9 de outubro de 2024

A diferença invisível

 

Editora Nemo

História em quadrinhos lembra muito gibi, da Mônica, do Tio Patinhas, aqueles que comprávamos em bancas quando crianças.

Então, quando se fala desse gênero na literatura - ou como expressão artística - o termo mais usado é "Novela gráfica" ou "Graphic Novel", em inglês mesmo.

Dessa forma que esse livro foi apresentado no Clube de Leitura de que faço parte, para ser apreciado nos seus detalhes: não só o que está escrito com palavras no texto, mas também o desenho, as cores, os formatos dos quadrinhos. 

(E nada contra gibi da turma da Mônica - que também tem sua própria linha de Graphic Novel, feita por artistas incríveis).

O livro em questão aqui é francês, escrito por Julie Dachez e desenhado por Mademoiselle Caroline, num esforço conjunto para falar sobre o autismo - "A Diferença Invisível" no título. (Nem sempre há dois autores, muitos são desenhados e escritos pela mesma pessoa).

A história é da própria autora, como ela se notava diferente e como foi a trajetória de diagnóstico e aceitação tanto de si mesma como de amigos e da sociedade em geral. 

Saúde mental - ainda bem - é um assunto cada vez mais presente, mas em termos de inclusão e respeito temos ainda um longo caminho pela frente. No Clube de Leitura, com a presença tanto de adultos que foram diagnosticados com autismo, como pais de crianças com autismo, deu para perceber como ter livros como esse que toquem a sensibilidade das pessoas ao assunto é importante para toda sociedade.