27 de junho de 2017

O caminho estreito para os confins do norte

Editora Globo - Capa Bloco Gráfico

Um dos meus melhores livros do ano: O Caminho Estreito para os Confins do Norte, Richard Flanagan. Ganhou o Man Booker Prize - e eu estou percebendo que esses prêmios funcionam como atestado de qualidade sim.

A história é sobre um prisioneiro de guerra australiano que é levado para trabalhar numa ferrovia impossível na Ásia (veja Burma Death Railway), após ser preso pelos japoneses durante a II Guerra Mundial. O livro vai e volta no tempo, mostrando Dorrigo Evans antes e depois da guerra (achei um pouco confuso no começo), e sua narrativa é muito fria e cruel, cheia de detalhes sobre o estado miserável dos prisioneiros - fome, doença, cansaço, agressões. É de embrulhar o estômago, é de chorar.

Eu já li muitos livros sobre a II Guerra na Europa, mas esse traz uma perspectiva totalmente nova - o que os japoneses estavam fazendo, como eles eram, e o envolvimento da Austrália nesse conflito. Além disso, dá para ter uma perspectiva do que é uma Guerra Mundial mesmo: Japoneses aprisionando australianos na Síria e levando-os para trabalhar no Sião. 

Como todo bom livro, ele também fala de amor - como é possível falar de humanidade sem falar de amor? E que dádiva é ver o amor sendo descrito de uma maneira completamente nova e que mesmo assim faz tanto sentido. 

"Tenho uma amiga em Fern Tree que ensina piano. Ela é muito musical. Já eu tenho dificuldade de reconhecer as notas. Mas um dia ela estava me dizendo que cada sala tem uma nota. Basta encontrá-la. Ela começou a modular a voz, mais grave e mais aguda. E, de repente, uma nota retornou a nós, simplesmente ricocheteou das paredes e se ergueu do chão e preencheu o lugar com seu zumbido perfeito. Um som maravilhoso. Como se arremessássemos uma ameixa e recebêssemos de volta um pomar. Foi inacreditável, sr. Evans. Duas coisas completamente diferentes, uma nota e uma sala, encontrando uma com a outra. Soava... correto. Estou sendo ridícula? Acha que é isso que queremos dizer com amor, Sr. Evans? A nota que retorna a nós? Que nos encontra mesmo quando não queremos ser encontrados? que um dia encontramos alguém, e tudo que a pessoa é volta para nós numa estranha maneira de zumbir? Que se encaixa? Que é maravilhosa. Não estou conseguindo me explicar muito bem, não é?, disse ela. Não sou muito boa com as palavras. Mas era assim conosco. Jack e eu. Não nos conhecíamos muito. Não tenho certeza se gostava de tudo nele. Imagino que algumas coisas em mim o tenham irritado. Mas eu era aquela sala, e ele era aquela nota, e agora ele se foi. E tudo está em silêncio."

Eu realmente recomendo ler esse livro, para aprender um pouco mais de história, e para aprender muito mais de humanidade (a qualidade de ser humano, não a qualidade de ser bonzinho).

25 de junho de 2017

Short Stories from Hogwarts of Heroism, Hardship and Dangerous Hobbies

Pottermore

Eu ouvi 20 anos de Harry Potter?

Depois de terminada a saga, foi lançado um site chamado Pottermore, para se cadastrar, descobrir de que casa você é, e continuar "vivendo a aventura" Harry Potter, fazendo pequenas tarefas, se relacionando na comunidade virtual e etc. Acontece que eu nunca fui muito desse mundo virtual - eu sabia que a J. K. Rowling estava compartilhando "novidades" por ali, mais informações sobre esse universo incrível, mas ainda assim confesso que me senti um pouco *velha* para ter paciência para ficar brincando nesse site (sim, eu tentei - por uns 15 minutos).

Ano passado, para atingir uma população mais ampla (vide capitalizar) foram lançados pequenos livros virtuais com textos cursos sobre Hogwarts advindos de Pottermore - e o primeiro que eu li foi "Short Stories from Hogwarts of Heroism, Hardship and Dangerous Hobbies". 

Nesse, conhecemos mais sobre Minerva McGonagall (com certeza uma das minhas personagens preferidas - nos livros e nos filmes), Remus Lupin, Sybill Trelawne e Silvanus Kettleburn (o professor de Trato das Criaturas Mágicas antes de Hagrid).

É um leitura super rápida mesmo, mas obviamente interessante (apenas) para os super fãs da série. 

Bellefleur

Editora Ecco

Eu li "Bellefleur" para conhecer a autora Joyce Carol Oates. Eu não sabia muito bem onde eu estava me metendo, e aí em paralelo a uma leitura beeeeeeeem leeeeeeeeeeenta, eu descobri que esse é um romance da sua saga gótica. Aí que eu não tenho uma definição teórica sobre isso, mas, na prática, a história é bem sombria com toques surrealistas. 

Nesse livro, é contada a história da família Bellefleur, por décadas, de maneira não linear. Apesar da genealogia logo na primeira página, é difícil de acompanhar alguns pulos, até você pescar um nome e ir achar mais ou menos o ponto em que se está na cronologia. Embora muito seja bem verossímil, vira e mexe algo fantástico acontece: uma ave enorme captura e leva embora um bebê, um marido se revela um vampiro que bebe lentamente o sangue da esposa, um homem volta 50 anos depois de ter sido levado por uma enchente. 

A família é marcada por assassinatos, disputas e brigas, então não é mesmo um passeio no campo, apesar de ter alguns momentos bonitos e reflexivos, principalmente relacionados a histórias de amor. Pode-se dizer até que é um livro sobre relacionamentos amorosos, nas suas mais diversas formas.

Eu geralmente gosto disso - romance - mas achei o livro difícil de fluir, de se envolver. É interessante, mas não é gostoso. A autora é uma das candidatas frequentes ao Prêmio Nobel de Literatura, mas não pretendo encarar outro livro dela no médio prazo.

6 de junho de 2017

Eles eram muitos cavalos

Editora Companhia das Letras - Capa Kiko Farkas / Máquina Estúdio Roman Atamanczuk 

Título: Eles eram muitos cavalos
Autor: Luiz Ruffato

Motivo pelo qual comprei esse livro: sinopse indica que as histórias se passam no dia 9 de maio de 2000 (dia do meu aniversário).

Motivo pelo qual eu li esse livro até o final: teimosia.

Motivos pelo qual eu não gostei desse livro: muita modernidade.

É uma colagem de formatos de textos diferentes, incluindo pequenas cenas sobre personagens aleatórios destacados na cidade de São Paulo. Possivelmente é um retrato da cidade em si e da época, mas achei chato ficar pulando de um tipo de texto (inclui menu de jantar, lista de itens num quarto, santinho de são expedito) para dentro da cabeça de pessoas desconexas. Porque sim, muitas cenas retratam o que as pessoas estão pensando, e puxa, para acompanhar linhas confusas de pensamento, já bastam as nossas próprias.