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Editora Ecco - Capa Allison Saltzman |
Miniaturista é um livro que se passa na Holanda do século XVII, um cenário bem pouco usual. Estamos no burburinho da grande Amsterdã, com os burgueses e os protestantes, no ponto de virada do mundo medieval para o mundo moderno. Esse contexto histórico é um dos grandes atrativos do livro, e bem dirá seu ponto mais importante.
Na sinopse, uma jovem do interior casa-se com o burguês bem sucedido, e na estranheza da casa nova - onde também estão a cunhada e os empregados, ela ganha uma réplica da própria casa em miniatura, e verba para mobilia-la. A jovem faz encomendas, mas recebe peças misteriosas também - que indica segredos de seus novos familiares, a quem ela não conhece bem.
Ao que parece, era um costume da época essa brincadeira de casa de bonecas, e a história é realmente inspirada pela casa de miniatura que sobreviveu dezenas de anos e agora está em um museu, a casa de Bonecas de Petronella Oortman. (Petronella é também o nome da jovem dona da miniatura no livro):
A autora Jessie Burton parte desse objeto, mas não faz uma recriação histórica. Ela escreve fugindo da expectativa comum - apresenta o que poderia ser uma história de amor (a jovem do interior que casa com um burguês rico da cidade grande), apresenta um suspense envolvendo um pessoa misteriosa (quem é o miniaturista que entrega o que não é encomendado e sabe tanto da vida íntima das pessoas da casa), mas resolve discutir a posição feminina nessa sociedade, com diferentes personagem marcantes, com pitadas de assuntos religiosos, sexuais, financeiros, espirituais.
Como eu mencionei, o que é mais interessante mesmo é esse retrato da época, tão difícil de ser retratada numa literatura de bestseller - esse livro ganhou prêmios e chegou a figurar em listas de livros populares. É um bom livro, que incomoda e não satisfaz, mas deixa uma forte impressão.
Para terminar, gostaria de deixar aqui uma citação que me chamou atenção por ser algo em que eu realmente acredito (em minha tradução):
"Eles se conhecem há muito tempo, e às vezes é difícil amar uma pessoa que você conhece tão bem. (...) Quanto você verdadeiramente passa a conhecer uma pessoa, Nella - quando você vê por baixo dos gestos doces, os sorrisos - quando você vê a raiva e o medo lamentável que cada um de nós esconde - então o perdão é tudo. Nós todos necessitamos desesperadamente de perdão."