28 de janeiro de 2017

Enclausurado

Editora Companhia das Letras - Capa Cláudia Espínola de Carvalho

Nós já conhecemos narradores mortos - mas certamente Enclausurado é o primeiro livro de projeção internacional em que o narrador é um feto. Isso mesmo. Uma criança, antes de nascer. Inteligentíssima. Transtornada por saber que sua mãe, a quem já ama, claro, está planejando assassinar seu pai, junto com o amante.

Ian McEwan escreve uma obra incrível - incrível, literal e figurativamente - em torno de um tema bem banal, o crime passional. O narrador traz o inusitado e subverte aquela perspectiva do bebê que não pensa, só sente, e é tão inocente e tão ignorante do mundo. Esse feto, enclausurado, gosta de vinho e conhece os diferentes sabores. Sabe de política internacional, a crise europeia, novos empreendimentos, etc - baseado em diversos podcasts que a mãe gosta de ouvir.

Eu me surpreendo como a informação está tão mais disponível para a geração atual, que a um clique via google ou youtube pode ser tornar especialista em assuntos tão diversificados como vinho, bicho-preguiça, viagens rodoviárias no Alasca, ou o sistema prisional dinamarquês. Eu sou da última geração que estudava em enciclopédia e se quisesse saber mais detalhe, procurava livros sobre o tema (ou recortes de jornais que a minha mãe colecionava, com as perspectivas atuais sobre assuntos importantes). 

Pode ser surpreendente, mas a carga de informação que um feto pode ter acesso só ao ouvir esse tipo de conteúdo que chega via podcast, vídeo, TED, não é nada inconcebível. Com trocadilho intencional.

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