Editora Companhia das Letras - Capa Peter Mendelsund |
Se eu pudesse recomendar um livro para toda garota no colegial ou na faculdade seria esse: Faça Acontecer, de Sheryl Sandberg. É um livro realmente bom, com bastante embasamento em pesquisas científicas e, claro, na experiência da autora, chefe de operações (CFO) do Facebook - e considerada uma das mulheres mais poderosas do mundo hoje. Ou para ser justa, uma das pessoas mais poderosas do mundo hoje. (Esse é um dos tópicos do livro: por que "mulher" tem que ser qualitativo diferencial de alguém no mundo profissional?)
Sheryl diz, e eu concordo, que nem todas mulheres querem trabalhar fora quando tiverem filhos, ou terem posições de liderança ou carreiras executivas. Mas esse livro é para aquelas que querem, e acabam desistindo no meio do caminho. Ou são desestimuladas pelas circunstâncias. Ou para entender porque pode ser tão difícil competir com os homens em pé de igualdade - já que pé de igualdade não há na maioria dos casos.
Ela, por exemplo, tem dois filhos e tirou licenças maternidades bem curtas. Eu não faria isso, e ela não vende isso como "ideal" - Sheryl defende sim que toda mulher deve poder escolher o que fazer com sua vida e sua carreira, pensando no melhor para ela e para sua família. Ela menciona por exemplo a mãe, que não trabalhava fora, mas se envolvia em programas beneficentes e ajudava centenas de pessoas - voluntário, não remunerado, mas trabalho e também deveria ser valorizado - acredito que a maioria das mães que ficam em casa acabam se envolvendo com programas assim, em instituições de caridade ou igrejas, e fazendo a diferença não só em suas casas. Ela também menciona o valor do trabalho de educar a próxima geração e quem se dedica exclusivamente para isso. Acredito que todas as opções tem seu valor e devem ser respeitadas - mas esse livro, claro, é principalmente para as mulheres, antes e depois de serem mães, que decidiram trabalhar fora - e eu me encaixo nessa categoria.
Posto isso, a parte que eu mais gostei para lidar com a culpa de ser mãe e profissional (e Sheryl vai mais longe e trata também das culpas que toda mulher carrega, independente de ser mãe) são as pesquisas citadas sobre os efeitos de ter os dois pais que trabalham fora sobre os filhos. Numa das notas de rodapés, é mencionado:
"Um estudo no Reino Unido com 11 mil crianças revelou que as crianças que demonstravam os níveis mais altos de bem-estar pertenciam a lares onde os dois genitores trabalhavam fora. Tendo como variáveis o grau de instrução maternal e o rendimento doméstico, os filhos de famílias nos quais o casal trabalhava fora, especialmente as meninas, apresentaram o menor número de problemas de comportamento, como hiperatividade ou sentimentos de tristeza e preocupação. Ver Anne Mc Munn et al., "Maternal Employment and Child Socio-Emotional Behaviour in the UK: Longitudinal Evidence form the UK Millennium Cohort Study", Journal of Epidemiology & Community Health 66, no 7 (2012): 1-6".
Também fala-se que em 1975 uma mãe que não trabalhava fora dedicava cerca de 11 horas por semana aos cuidados específicos com as crianças - como contar histórias, brincar, etc. Hoje, as mães que trabalham fora dedicam esse mesmo tempo. Ou seja, há uma mudança cultural de valorização da criança, e mesmo as mães que trabalham fora tem dado mais ênfase a isso.
Embora eu tenha abordado aqui a mãe que trabalha, vale a pena ler o livro para quem está só começando na carreira. Há dicas importantes de postura, abordagem, e mesmo direcionamento do que fazer. Sheryl Sanderberg é privilegiada pela sua inteligência, sua formação, suas oportunidades de trabalho que a levaram tão longe, e até pelo marido que a apoiava demais (e infelizmente faleceu no ano passado). Nem todo mundo vai ter a vida dela - ou disposição para se dedicar e trabalhar o tanto que ela trabalha ("o facebook está disponível 24 horas por dia, e virtualmente eu também" - ela disse), mas o livro abre a mente para infinitas possibilidades - mesmo para homens que vão lidar com mulheres como suas chefes, pares e subordinadas.
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