Editora Senac - Capa Moema Cavalcanti |
A proposta do livro "Outros 500" está explicada em seu subtítulo: uma conversa sobre a alma brasileira. Mais que isso, é uma psicanálise da tal alma do Brasil, feita por uma analista junguiano. Em um formato de conversa, a jornalista Lucy Dias dialoga com Roberto Gambini sobre temas diversos - a origem, trauma da infância, complexos, do povo e do país. Só nessa sinopse, eu acho que muita gente já ia decidir não ler esse livro. Eu dou uma chance.
Lendo esses livros de psicologia analítica é que eu me descubro mais engenheira e exata. Cada capítulo é sobre um assunto específica e, em vários momentos eu não consegui ver muito nexo entre uma resposta e a pergunta seguinte (e, às vezes, confesso, entre a pergunta e a resposta). Esse negócio de generalizar o país e o povo como uma entidade minimamente homogênea, que pode ser considerada "algo específico" e tirar conclusões psicológicas é realmente muito estranho - e muito difícil de eu aceitar também.
Algumas coisas fazem sentido (como o jeitinho brasileiro), mas outras são muito estranhas - como dizer que o professor é uma mulher frustrada que precisa ser desconstruída e se reconhecer como um ser ignorante e aprendente. E eu: hein??
Além disso, o Roberto Gambini estudou bastante os indígenas brasileiros, então ele propõe como saída um "retorno às origens" e uma maior identificação e até adesão a cultura indígena. Tipo argumentar que bebê índio não chora, porque fica amarrado no corpo da mãe o tempo todo, de cara para o peito, mamando a vontade, enquanto ela carrega ele para cima e para baixo - então a brasileira deve repensar a sua maternidade... E eu: oi??
Tem alguns pontos que eu achei interessante, e que o país deu sinais de mudança nesses últimos anos (o livro foi escrito na virada do século), como uma certa conscientização política (estou falando de sinais!), mas realmente acredito que esse livro faça sentido para o pessoal de Psicologia mesmo, ou que goste bastante desse assunto.
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