Editora Record / Altaya |
O ponto de partida de "A Jangada de Pedra" é algo bem surreal: a península ibérica se desconecta da Europa e sai navegando, na falta de termo melhor, pelo Atlântico. Assim, sem aviso prévio ou explicações científicas, o fato é que a fronteira com a França rachou e o que era uma península se transformou numa ilha - eppur si muove, como diria Galileu.
No meio disso, Saramago junta 5 pessoas, cada uma com sua própria dose de fantástico: um homem que sente o solo tremer, uma mulher que fez um risco no chão que não se apaga, outra que desfaz um meia de lã azul num fio que não se acaba, um homem perseguido por uma revoada de passarinhos e um homem que jogou uma pedra pesada no mar e ela quicou sem ele ter força para isso. Ah, e um cão que parece bem esperto.
A história não se apresenta de maneira direta assim, mas ela vai se construindo e cada vez mais envolvendo você nessa realidade tão surreal - em que a geografia faz sentido, a sociedade faz sentido, mas meia dúzia de fatos, não. No entanto, Saramago não é um autor de ficção fantástica por si só, ele é um autor de relacionamentos humanos durante crises e é isso que ele apresenta magistralmente nesse livro. Não é um livro difícil, mas se você gosta de respostas, vale lembrar que Saramago adora perguntas.
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