28 de maio de 2012

O melhor de mim

Editora Arqueiro - Capa Raul Fernandes

Se você já conhece Nicholas Sparks, sabe o que pode esperar de "O melhor de mim": um romance cheio de clichês, muito drama, aquela narrativa feita para tocar fundo no seu coração e fazë-la desabar em lágrimas. Eu já estive lá, e agora estou mais vacinada... Ou então as histórias que estão saindo dramáticas de mais, muito forçadas mesmo - até a temática de um casal que não pode ficar junto na juventude e depois se reencontra, é parecida com a de outro livro dele.

Por isso, eu queria refletir aqui não sobre a história em si, mas sobre um comportamento do personagem principal - o cara que não fica com a mocinha, porque ele é de uma família de criminosos, ela é a riquinha popular da cidade, e, 20 anos depois, eles continuam se amando, apaixonados como sempre. A diferença é que ele se tornou um misantropo, e ela namorou, casou e teve 4 filhos. O amor que ele sentia por ela, não abriu espaço para mais ninguém, mas para a mulher não, ela conseguiu "reconstruir" a vida. E não é a primeira vez que o Nicholas Sparks escreve sobre isso - como eu citei, na outra história, isso se repetia.

O engraçado é que, em Persuasão, da Jane Austen, que eu li praticamente em paralelo, a personagem principal feminina defende justamente o contrário: que uma mulher pode manter um sentimento aceso se não deu certo o relacionamento com um homem, e continuará sozinha, mas o sentimento do homem se esfriará e ele terá outros relacionamentos...

Quem será que está certo? Em pouco mais de 100 anos, o mundo mudou tanto, ou homens e mulheres não são tão diferentes assim?

24 de maio de 2012

Persuasão

Editora Zahar - Capa Rafael Nobre

Embora eu já tivesse lido Persuasão de Jane Austen em inglês, simplesmente amei ganhar essa edição toda bem feita, capa dura e anotações, em português. É um romance de costumes, que mostra a sociedade do interior da Inglaterra e o que era esperado das relações sociais, principalmente no que se refere a pessoas de diferentes "status".  Também apresenta a delicada dança dos relacionamentos com vista ao matrimônio, o que pode, o que não pode, o que deve, e o resultado disso tudo.

As notas trazem informações que ajudam a entender a sociedade da época, os seus costumes e até um pouco da geografia - muito útil ou curioso, como a sabe que o percurso que os personagens demorariam 3h30 para fazer tem 30km.

Agora, um grande bônus são as duas novelas inéditas em português - "Lady Susan" e "Jack e Alice". O primeiro é "epistolar", lemos só o que os personagens escrevem um para os outros e supomos o resto, o que é muito legal - é realmente fácil de visualizar o que está acontecendo, e isso é mérito da autora, com certeza. Jack e Alice é uma pequena narrativa muito irônica aproximando-se muito do cômico explícito, o que eu acho que deixou a história meio forçada. Sendo uma das suas primeiras obras, é certo concluir que, com a maturidade, Jane Austen pode dosar melhor sua ironia e nos encantar e fazer rir de maneira mais sutil e inteligente. Mas é claro que, mesmo com essa minha ressalva, vale a pena ler.

19 de maio de 2012

A invenção de Hugo Cabret

Editora SM
É um livro infanto-juvenil, uma história linda, uma edição especial, com muitas ilustrações incríveis. Tenho certeza que foram todos esses predicados que levaram a minha mãe a me dar esse livro de presente e como eu fiquei feliz! O livro é fantástico mesmo.

A narração é simples, para crianças. Embora a história aborde assuntos complexos como o fato de Hugo Cabret, órfão, ser deixado a mercê de seu tio alcóolatra, o que traz uma carga dramática importante, eu vejo mais como pano de fundo para um apresentar um mundo de sonhos e esperança, cinema e magia (a magia real, de ilusões e truques). Trata-se de um paralelo com a vida real de todos nós - com tristezas, mas grandes possibilidades de alegria.

O livro foi escrito como se fosse um filme, o narrador pede que você imagine uma tela de cinema, o zoom de uma câmera, o acompanhar um certo personagem, e logo em seguida apresenta uma série de ilustrações de lápis sobre papel que é exatamente isso... Nunca tinha visto um livro casar tão bem trechos narrativos e ilustrações que também contam a história, sequencialmente - o que deve ter sido muito facilitado pelo fato do autor Brian Selznick (um americano) ser também o ilustrador.

Eu ainda não assisti o filme, mas isso pode ter facilitado minha imersão no livro - em realmente ver e apreciar as ilustrações, em viajar junto com os personagens, sem aludir a uma memória pronta. O livro tem mais de 500 páginas, com relativamente pouco texto, e em uma tarde é possível ler inteiro. E se apaixonar completamente.

Ilustração de Brian Selznick

15 de maio de 2012

A Feast for Crows e A Dance with Dragons

Editora HarperCollins Publishers
Os últimos dois livros lançados da série de Guerra dos Tronos, juntos, tem mais de duas mil páginas e dezenas de personages principais (aqueles que são nomes de capítulos). "Um Banquete para os Corvos" e "Uma dança com dragões" são respectivamente o quarto e o quinto livro da série de George R. R. Martín, a quem incluímos nas nossas orações para que não morra antes de escrever os dois livros que faltam.

É difícil comentar algo da história sem fazer spoilers, mas esse é a minha proposta aqui - continuamos torcendo para alguns personagens, mas o autor continua sem dó para ceifar cabeças e nos surpreender com uma reviravolta que é de tirar o chão, isso principalmente mais para o final do 5o livro, quando a trama acelera.

Pois o que é admirável nessa obra - a forma como G. R. R. Martín descreve todos os jogadores desse jogo de poder, sejam eles grandes ou pequenos - também é o que a deixa inconstante: afinal gostamos mais de alguns personagens, que são mais interessantes ou simpáticos, mas para dar conta de andar com todas as tramas paralelamente, os "preferidos" demoram para aparecer - talvez até deliberadamente para aguçar ainda mais nossa curiosidade.

A trama é realmente complexa e muito bem construída: além de estar contando sobre a vida de centenas de pessoas, nesses livros há mais revelações sobre a história de Westeros e do resto desse mundo que não sei como cabe na mente de um homem só. De ficar boquiaberta, e torcer para o próximo livro ser lançado logo. Corra, Martín, corra!

9 de maio de 2012

O tempo e o vento

Editora Companhia das Letras
"O tempo e o vento" é a saga de uma família no Rio Grande do Sul, ou a saga do Rio Grande do Sul contada através de uma família. São 7 livros, em 3 partes: "O Continente", "O retrato" e "O arquipélago", de uma riqueza narrativa incrível. Eu li em poucas semanas muitos anos atrás, e fiquei muito encantada a ponto de colocar no meu top 10 - tanto por gostar muito dessas histórias compridas, como por gostar de como Érico Verissimo construiu os personagens e histórias.

As personagens femininas são as mais fortes, e se não houvesse tanta oposição, eu chamaria minha filha de Bibiana, que justamente se casa com o certo capitão Rodrigo (parte da história que é mais cobrada em vestibulares e deve ser a mais popular).

Já ocorreram adaptações para TV e teatro, e esse ano está sendo feito o filme, mas lê-lo é realmente uma aventura em si, um mergulho na cultura de um povo, a nossa cultura mesmo, assim como outros autores fizeram com o sertão nordestino. Quem tiver coragem para encarar, eu realmente recomendo - e quem não tiver, pode me dar de presente. :)

5 de maio de 2012

Se um viajante numa noite de inverno

Editora Schwarcz - Capa Andréa Vilela de Almeida
"Se um viajante numa noite de inverno" não parece um título de livro, mas sim um começo de uma história e é isso mesmo, mas o livro do Italo Calvino é muito mais que isso: uma viagem - das mais loucas - pelo próprio processo de leitura e escrita de literatura. Uma ficção em metalinguagem (ou uma metalinguagem em ficção?) que não tem como não encantar quem gosta desse mundo dos livros.
 
Esse livro tem um dos trechos sobre a relação do leitor e os livros que eu mais gostei e, embora eu tenha lido há alguns anos, nunca esqueci e agora vou deixar aqui para vocês pensarem e se auto-analisarem... Quem quiser fazer uma auto-declaração, os comentários estão aí para isso :).
 
"Sua casa, sendo o lugar em que você lê, pode dizer-nos qual é o lugar que os livros ocupam na sua vida, se eles constituem uma defesa para manter distante o mundo exterior, se são um sonho no qual você mergulha como numa droga ou se, ao contrário, são pontes que você lança para fora, rumo ao mundo que tanto lhe interessa, a ponto de você pretender multiplicá-lo e dilatar-lhe as dimensões por meio dos livros."