Mais uma resenha da Fér para vocês, um livro que não tem em português - ainda!
Editora P.O.L. |
Escolhi
este livro pelo nome : “liseuse” é a palavra que os franceses inventaram
para o e-reader, aparelho que serve para ler livros em formatos eletrônicos. Ele
foi lançado recentemente na França, eu não conhecia o autor, Paul Fournel, mas
achei o título curioso e resolvi
comprar a versão eletrônica para ler no meu Kindle – quer maneira mais adequada
para ler um livro com este nome?
A “liseuse” em questão
nada mais é do que um iPad (não está escrito com todas as letras, mas para bom
entendedor...), entregue em um final de tarde de sexta-feira a Robert Dubois,
editor, por uma estagiária da empresa. Ela explica que foi o “chefão” que
mandou entregar, com todos os novos livros ainda não publicados que Robert deve
analisar no final de semana ali dentro, e mostra como usar a novidade. Este é o
ponto de partida do livro: o choque entre Robert, um editor à moda antiga, e a
jovem estagiária trazendo um e-reader – será este o futuro do setor?
Nas páginas seguintes,
vamos acompanhando Robert que descobre o funcionamento do aparelhinho, suas
vantagens, suas desvantagens. Conhecemos sua esposa, que é assessora de
imprensa de uma outra editora, cruzamos com alguns de seus escritores, seus
colegas, vemos como funciona o mundo dos livros em Paris. Vemos Robert, talvez inspirado
por seu e-reader, lançar um projeto inovador com os estagiários da empresa, rumo
ao futuro do mercado editorial. O tempo e o livro vão avançando, sem a gente
perceber – a leitura é deliciosa, frases bem construídas, coloridas, profundas.
Para mim, as páginas em prosa pareciam pura poesia.
E aí, quando a
história acaba, vem uma pequena página a mais onde o autor explica que o livro
foi construído com a forma inspirada em uma sextina, forma poética inventada no
século XII pelo trovador Arnaut Daniel e depois utilizada por poetas clássicos,
como por exemplo Camões. Na sextina original, são seis estrofes de seis versos,
e as palavras que terminam cada um dos seis primeiros versos voltam nas outras
estrofes, seguindo o esquema de rima : ABCDEF – FAEBDC – CFDABE – ECBFAD –
DEACFB – BDFECA. Em “La liseuse”, são 36 capítulos que substituem os versos. As
palavras “lida”, “creme”, “editor”, “culpa”, “mim” e “noite” terminam os
capítulos, seguindo o esquema de rima acima.
E, para completar, os versos/capítulos têm medida: os seis primeiros têm
7500 caracteres cada, os seis seguintes 6500, e assim até os seis últimos, com
2500 cada um. O autor conta que é porque os versos servem para contar a vida de
um homem mortal, que é como “uma bola de neve derretendo”.
Quando li tudo isso no
final, fiquei com vontade de estar com o livro na versão papel nas mãos, para
poder voltar no final de cada capítulo, segurar várias páginas ao mesmo tempo entre
os dedos e ver as mesmas palavras voltando de maneira cíclica. Quando li tudo
isto, lembrei das aulas de redação e literatura do colégio, e dos tempos em que
eu tentava escrever versos contando as sílabas. Quando li tudo isto, entendi a
poesia que eu senti lendo o texto, e fiquei com vontade de ler tudo de novo.
Livro de papel ou eletrônico, não importa, o que importa é o conteúdo. Como
dizem os franceses, este livro foi um “coup de coeur” – apaixonei.
Fér!!! Eu muito lembro de você contando versos! Vc chegou a fazer um dodecassílabo, não? Acho que eu não tinha paciência para tanto (só para fazer poesias normais mesmo, hahahaha).
ResponderExcluirAcho que esse vai ser o primeiro francês que eu vou ler no kindle! Mas daqui a alguns meses, depois da pilha aqui abaixar. :)