29 de março de 2012

Café com Deus

Editora Fôlego

O título é curioso: Café com Deus. Mas não se trata daquela conversa rápida de corredor, ao tomar um café fazendo um intervalo no trabalho. Aqui, estamos falando de sentar para tomar café com um amigo, em que nenhum assunto é proibido, mesmo os mais difíceis. Esta foi a proposta do Pastor Hilder Stutz, fazer uma breve reunião semanal para se relacionar com Deus, refletir sobre a vida e nossos relacionamentos. O Café com Deus ocorre há anos em Alphaville, e agora nasce esse livro com 65 textos curtos e profundos para ler a qualquer momento em casa.

É formidável ver como o Pastor Hilder aborda fatos atuais, como a morte de Michael Jackson, a crise de 2009, o atirador na escola do Rio de Janeiro, e citações bíblicas e de autores contemporâneos para falar de assuntos que afetam a todos nós - ansiedade, estresse, o equilíbrio família-trabalho, doença e morte. Cada texto é uma pílula de recarga emocional, ótimo para ler um por dia (embora eu tenha lido tudo rapidinho, a leitura flui que é uma maravilha).

Eu tenho o privilégio de chamar o Pastor Hilder de meu pastor, ao participar da igreja que ele pastoreia - e posso dizer que ele é uma das pessoas mais amorosas que eu conheço. Isso se reflete em seus textos, tão preciosos, que podem ser na sua vida, como ele mesmo gosta de dizer : uma forma de Deus o abençoar rica e abundantemente. :)

25 de março de 2012

Ou isto ou aquilo

Editora Nova Fronteira - Ilustração Beatriz Berman

Outro dia, foi Dia da Poesia (14 de março) e eu procurei lembrar qual era a poesia que eu conhecia há mais tempo, e lembrei daquela que dá título a esse livro - Ou Isto ou Aquilo, de Cecília Meireles. Eu tenho a 2a edição desse livro, de 1990. Nessa época, eu tinha 7 anos (e o preço era 2000,00), mas não lembro quando realmente ele foi comprado.

Rapidinho, eu reli o livro todo e fiquei encantada de resgatar alguns dos sentimentos que eu tinha ao ler esse livro criança - essa eu não gostava, essa era estranha, essa eu adorava.  É um pedaço da infância por meio das páginas de um livro...

Engraçado a gente achar às vezes que criança, só por ser um ser pequena, não entende alguns assuntos (ou até linguagem figurada). As poesias da Cecília não são bobas, falam de sonho e saudades, de bola e palmada, de chá e enchente, e até algumas parecem até poesia concreta.

Ela também gostava de brincar com os sons, repetindo-os ao longo de uma poema, em que não vale só a rima - então eles simplesmente pedem para serem lidos em voz alta. E isso foi o que eu realmente fiz... Como é gostoso!

21 de março de 2012

Deixados para trás

Editora United Press

Quem ia em igreja no começo da década passada (tempão, hein), lá por 2001, 2002, pode ter conhecido essa série americana de livros apocalípticos - Deixados para trás, escrita por Tim LaHaye e Jerry B. Jenkins. Eu comecei a ler naquela época e parei. Aí que uns meses atrás (muitos), tinha uma promoção em uma loja virtual para comprar todos os 13 livros por uma miséria e eu não resisti (mas agora eu entendo porque era tão barato).

No final do ano passado, decidi ler tudo em 2012, finalmente. E eis que: desisti. Cheguei até o 3o livro, sofrendo. Pessoas, é muito mal escrito. A história é bem rasa (isso eu lembrava) baseada numa das teorias interpretativas do livro Apocalipse da Bíblia (os crentes serão arrebatados para o paraíso, e os deixados para trás terão 7 anos de muitas tribulações, praga, doença, guerra, morte antes de Cristo voltar), mas eu realmente imaginei que poderia ser interessante ver como os autores construíram uma história de ficção em torno desse tema. Mas não dá. O livro é uma enrolação, bem pouco verossímil na construção da história e os personagens tem tanta profundidade psicológica como uma piscina de bebê. 

Eu poderia insistir em ler a série, só pela meta, mas tem tanto tanto livro bom nesse mundo, que perder o meu tempo com isso é um desperdício. Se você pulou essa modinha (teve até filme), muito bem, não perdeu nada mesmo. 

17 de março de 2012

Na Praia

Editora Companhia das Letras

Eu só conhecia o autor Ian McEwan de ver o filme Desejo e Reparação, que foi adaptado do livro Reparação, que foi realmente um chute no estômago - principalmente para quem, enganada como eu por um título brasileiro e a mesma Keira Knightkey, se remeteu ao fofíssimo Orgulho e Preconceito. Aí a mediadora do meu clube de leitura fez uma analogia dos livros desse autor como uma bala de puxar: ele pega uma situação comum e puxa, estressa, até ver quando vai romper. E o pessoal comprou a ideia de ler Na Praia (On Chesil Beach) para esse mês de março.

A história se passa no comecinho da década de 60, antes da revolução sexual, e começa com um casal, virgem, num hotel na sua noite de núpcias. A gente entra na cabeça dele, e entra na cabeça dela, e pode ver como eles estão totalmente descompassados: ele está louco para consumar o ato e ela sente nojo de sexo (a começar por beijo na boca) e gostaria de fugir da situação, mas não quer desapontá-lo como esposa.

Há alguns flashbacks para entender melhor os personagens, e mesmo sendo uma história curta, ela é um mergulho profundo nesses dois, Edward e Florence, e também um retrato de uma época, principalmente do que se tratavam os namoros. No entanto, há algo de atemporal no casal: o ponto principal de conflito é que eles não sabem conversar. Simplesemente assim, não sabem. Pensam algo e falam outra coisa, não sabem expressar seus sentimentos. Embora a relação sexual seja a base para mostrar a crise de diálogo do casal, eu tenho tanta certeza que há tantos casais por aí hoje em dia, sofrendo e debatendo-se (struggling, é o que me vem a cabeça) exatamente com o mesmo problema...

Eu me apaixonei realmente pelo autor, gostei do estilo, da forma de apresentar os personagens, da trama bem traçada, da linguagem. Recomendo mesmo, e outros dele já estão na minha lista por ler. Aguardem...
  

13 de março de 2012

O mundo pós-aniversário

Editora Intrínseca - Capa HarperCollins Publishers

Esse livro explora aquela famosa pergunta: "E se?" ao limite, criando na verdade dois mundos "pós-aniversário" paralelos - como aquelas dimensões de possibilidades da física - em capítulos alternados ao longo do livro. Você não precisa imaginar o que aconteceria (embora a personagem principal o faça isso, nas duas dimensões), mas vai acompanhando as duas possibilidades (ok, que são infinitas, mas um ponto só de ruptura é bem mais fácil, vai), muito bem construídas pela autora Lionel Shriver (a mesma de "Precisamos falar sobre Kevin", que eu não li, nem vi o filme).

No começo, o leitor é apresentado a dois casais que moram em Londres, Irina e Lawrence (americanos), e Jude e Ramsey (ingleses). Irina é ilustradora de livros infantis conheceu Jude que é a autora, e num jantar de casais, elas conhecem os respectivos maridos, Lawrence, um analista político e Ramsey, um jogador famoso de sinuca (estamos na década de 1990). Como o jantar é no dia do aniversário do Ramsey, isso acaba virando uma tradição, e num certo ano, mesmo com a separação de Jude e Ramsey, Lawrence, que é fã de sinuca e está viajando, incentiva a esposa a sair com Ramsey mesmo assim. (Ok, ainda não se perderam?) No final do jantar de aniversário, já na casa do Ramsey, rola um climinho quando ele vai ensiná-la a usar o taco (literalmente), e a partir daí temos a ruptura: em um universo, ela o beija e em outro, não.

Vou dizer que eu achei as personagens bem diferentes, embora gente comum, e não consegui muito empatizar com elas, ficou aquela estranheza. Mas a autora elaborou bem essa história de dois mundos, em que os mesmos eventos externos acontecem (como a morte da Lady Di, ou a queda das torres gêmeas), criando pontos comuns embora as reações sejam às vezes um pouco diferentes por causa das circustâncias.

O livro parece que tem uma moralzinha besta no final (que eu não posso contar, que pode fazê-lo torcer o nariz logo no início) - mas o principal ponto parece ser mesmo comparar um relacionamento seguro e tranquilo (entre Irina e Lawrence) de um quente e conturbado (entre Irina e Ramsey) e eu tenho certeza que cada pessoa tem suas próprias considerações sobre esse tema, baseado em suas próprias experiências ou de amigos. Mas quem tiver curiosidade de ver uma história completa sobre essas escolhas, talvez até para fazer um estudo psicológico, pode procurar esse livro.

7 de março de 2012

La Liseuse

Mais uma resenha da Fér para vocês, um livro que não tem em português - ainda!
Editora P.O.L.

Escolhi este livro pelo nome : “liseuse” é a palavra que os franceses inventaram para o e-reader, aparelho que serve para ler livros em formatos eletrônicos. Ele foi lançado recentemente na França, eu não conhecia o autor, Paul Fournel, mas achei o título curioso e resolvi comprar a versão eletrônica para ler no meu Kindle – quer maneira mais adequada para ler um livro com este nome?
A “liseuse” em questão nada mais é do que um iPad (não está escrito com todas as letras, mas para bom entendedor...), entregue em um final de tarde de sexta-feira a Robert Dubois, editor, por uma estagiária da empresa. Ela explica que foi o “chefão” que mandou entregar, com todos os novos livros ainda não publicados que Robert deve analisar no final de semana ali dentro, e mostra como usar a novidade. Este é o ponto de partida do livro: o choque entre Robert, um editor à moda antiga, e a jovem estagiária trazendo um e-reader – será este o futuro do setor?
Nas páginas seguintes, vamos acompanhando Robert que descobre o funcionamento do aparelhinho, suas vantagens, suas desvantagens. Conhecemos sua esposa, que é assessora de imprensa de uma outra editora, cruzamos com alguns de seus escritores, seus colegas, vemos como funciona o mundo dos livros em Paris. Vemos Robert, talvez inspirado por seu e-reader, lançar um projeto inovador com os estagiários da empresa, rumo ao futuro do mercado editorial. O tempo e o livro vão avançando, sem a gente perceber – a leitura é deliciosa, frases bem construídas, coloridas, profundas. Para mim, as páginas em prosa pareciam pura poesia.
E aí, quando a história acaba, vem uma pequena página a mais onde o autor explica que o livro foi construído com a forma inspirada em uma sextina, forma poética inventada no século XII pelo trovador Arnaut Daniel e depois utilizada por poetas clássicos, como por exemplo Camões. Na sextina original, são seis estrofes de seis versos, e as palavras que terminam cada um dos seis primeiros versos voltam nas outras estrofes, seguindo o esquema de rima : ABCDEF – FAEBDC – CFDABE – ECBFAD – DEACFB – BDFECA. Em “La liseuse”, são 36 capítulos que substituem os versos. As palavras “lida”, “creme”, “editor”, “culpa”, “mim” e “noite” terminam os capítulos, seguindo o esquema de rima acima.  E, para completar, os versos/capítulos têm medida: os seis primeiros têm 7500 caracteres cada, os seis seguintes 6500, e assim até os seis últimos, com 2500 cada um. O autor conta que é porque os versos servem para contar a vida de um homem mortal, que é como “uma bola de neve derretendo”.
Quando li tudo isso no final, fiquei com vontade de estar com o livro na versão papel nas mãos, para poder voltar no final de cada capítulo, segurar várias páginas ao mesmo tempo entre os dedos e ver as mesmas palavras voltando de maneira cíclica. Quando li tudo isto, lembrei das aulas de redação e literatura do colégio, e dos tempos em que eu tentava escrever versos contando as sílabas. Quando li tudo isto, entendi a poesia que eu senti lendo o texto, e fiquei com vontade de ler tudo de novo. Livro de papel ou eletrônico, não importa, o que importa é o conteúdo. Como dizem os franceses, este livro foi um “coup de coeur” – apaixonei.
Se alguém conhece um editor por essas bandas tupiniquins, eu adoraria receber a missão de traduzi-lo para o português :-)

2 de março de 2012

Hunger Games - Jogos Vorazes

Editora Scholastic Press
Senhoras e senhores, apresento a vocês a série blockbuster da temporada - Jogos Vorazes, de Suzanne Collins. Se não for isso, é quase, porque o ponto inicial pode assustar um pouco as pessoas, mas quem sabe com o filme do primeiro livro chegando aos cinemas (daqui a 3 semanas e esse post é para encorajá-lo fortemente a lê-lo antes disso), acredito que o sucesso (que está viral por enquanto) só tende a aumentar.

Embora tenha ouvido de vários amigos que se tratavam realmente de livros ótimos, a minha primeira vontade era fugir. Para entender melhor: num futuro distante, aqui mesmo na Terra, tudo começa com os tais jogos da fome, em que 24 adolescentes (12 a 18 anos, isso aí), são selecionados para participar de um programa televisivo que é uma mistura de BBB e UFC fatal - jogados numa arena, o último a sair vivo, ganha. Sim, vivo. Sim, tem que matar os outros. E eu lá quero ver um livro que garante a descrição de 23 pessoas morrendo? Aí vai um spoiler que vale a pena (ou pule para o próximo parágrafo, se conseguir): minha amiga me garantiu que ninguém a quem você se apega morre, então não fica tão sofrível. Ok, com essa relativização (ou premissa), que ne permitiu achar coragem, continuemos.

No entanto, tem todo um aspecto político por trás - no futuro, esses jogos vorazes acontecem para que os 12 distritos de um "reino", Panem, lembrem-se continuamente de que não deveriam ter se rebelado contra o governo central, o Capitol, ao enviar 2 de seus adolescentes, escolhidos por sorteio ou voluntários, para se matarem num grande show de entretenimento - cujo  prêmio é  basicamente dinheiro e comida, algo bem restrito para eles nessa época (é já é a 74a edição). Daí vem a parte que realmente me interessa: uma observação das relações de poder e comportamentos humanos, bondade e maldade, que embora o contexto seja totalmente fictício - gente é gente em qualquer lugar.

Eu li os 3 livros em uma semana - no Carnaval - porque são do tipo que não dá para parar de ler. Escritos para nos prender mesmo, podem dar filmes ótimos - não vou perder o primeiro, meu preferido, de jeito nenhum. Bom, não consigo comentar mais nada - inclusive se sou team P. ou team G. - para não estragar a leitura de vocês. Mas corre para ler. Vale a pena.