Editora Nova Fronteira - Capa João Baptista da Costa Aguiar |
Para marcar os 90 anos da Semana da Arte Moderna de 1922, quero falar do meu poeta favorito, Manuel Bandeira, que teve seu poema "Os sapos", uma crítica ao movimento Parnasiano, lido em um dos dias do evento no Teatro Municipal de São Paulo.
Nem sei dizer o porquê de eu gostar tanto de Manuel Bandeira, ou se for para dizer uma razão, é bem por causa da sua obra: entre poesias de amor e humor, vida e morte, lirismo e sarcasmo, rimas e sonoridade, esse poeta me encanta.
Para apreciar todos os seus 80 anos de poesia, o livro que eu tenho dele é Antologia Poética, organizados por publicação. São muitos os poemas famosos - quem nunca quis ir embora para Pasárgada? - mas o meu preferido, que me emociona e arrepia, é Madrigal Melacólico, de 1920, que eu deixo aqui para ser declamado - respeitando as vírgulas e pontos.
Madrigal melancólico
O que eu adoro em ti,
Não é a tua beleza.
A beleza, é em nós que ela existe.
A beleza é um conceito.
E a beleza é triste.
Não é triste em si,
Mas pelo que há nela de fragilidade e incerteza.
O que eu adoro em ti,
Não é a tua beleza.
A beleza, é em nós que ela existe.
A beleza é um conceito.
E a beleza é triste.
Não é triste em si,
Mas pelo que há nela de fragilidade e incerteza.
Não é a tua inteligência.
Não é o teu espírito sutil,
Tão ágil, tão luminoso,
- Ave solta no céu matinal da montanha.
Nem é a tua ciência
Do coração dos homens e das coisas.
Não é a tua graça musical,
Sucessiva e renovada a cada momento,
Graça aérea como o teu próprio pensamento,
Graça que perturba e que satisfaz.
Não é a Mãe que já perdi.
Não é a irmã que já perdi.
E meu pai.
Não é o profundo instinto maternal
Em teu flanco aberto como uma ferida.
Nem a tua pureza. Nem a tua impureza.
O que eu adoro em ti - lastima-me e consola-me!
O que eu adoro em ti, é a vida.
Nenhum comentário:
Postar um comentário