31 de dezembro de 2012

Top 2012

Quais foram seus livros preferidos em 2012??

Aí vai minha listinha, em nenhuma ordem em particular.

Nacionais
Diário da Queda
A décima segunda noite

Ficção Estrangeira
Na Praia
The Guernsey Literary and Potato Peel Pie Society
As aventuras do Sr. Pickwick
Maus

Não-Ficção
The Shakespeare Guide to Italy



Estatísticas 2012

Quantos livros vocês leram em 2012??

Eu li 66 livros.

Foram 78 posts, sendo 61 sobre livros lidos/relidos, 11 livros lidos antes, 3 leituras convidadas, 2 posts gerais (esse e o top 2012) e sobre 1 autor (Charles Dickens, que eu absolutamente amo). 

50 livros estrangeiros, 16 livros brasileiros (mais que o dobro de literatura nacional do que o ano passado, e uma proporção boa, considerando que estamos falando do mundo inteiro X um único país). 

40 livros em português e 26 livros em inglês (sendo 20 no kindle, gosto cada vez mais dele, vai ser ótimo ler livros brasileiros agora!). 

Foram 15 livros emprestados (obrigada, amigos!). Eu realmente comprei mais livros, ganhei mais livros, troquei mais livros no sebo (super recomendo!).

Em um ano, foram 173 curtidas no facebook, fico muito feliz de poder divulgar um pouco da literatura que eu amo através desse canal. 

Que venha 2013 com muuuuuuitas leituras para todos nós!

28 de dezembro de 2012

A Décima Segunda Noite

Editora Objetiva - Capa Luiz Stein Design

Eu tenho um leve pé atrás contra versões de obras clássicas - geralmente são simplificações, só para o leitor conhecer a história, quando geralmente a forma em que essa história foi contada que torna a obra um clássico, que lhe dá o valor que tem. Mas se estamos falando de uma versão de Shakespeare feita por Luís Fernando Veríssimo, eu que não vou hesitar! 

"A Décima Segunda Noite" é uma adaptação divertidíssima de "Noite de Reis", com tantos elementos originais, como o papagaio narrador, exilados da ditadura e o principal cenário ser um salão de cabeleireiros em Paris, mas também uma trama intrinsecamente engraçada, que é aparentemente difícil saber onde acaba Shakespeare e começa Veríssimo, e me deu muita vontade de ir ler o original, para comparar e apreciar mais a genialidade do nosso autor brasileiro.

26 de dezembro de 2012

The Mistery of Mercy Close

Editora Penguin
Marian Keyes é minha autora preferida de chick lit. Talvez porque seus livros não são simplesmente entretenimento leve num romance bobo para fazer sonhar um pouquinho, mas ela aborda assuntos sérios de maneira direta, sem perder o bom humor quando ele é possível.

Seu último livro, "O mistério de Mercy Close", é sobre Helen, a última das irmãs Walsh, mas mais do que isso, é sobre depressão, drama particular da autora. Na minha opinião, isso deixou o livro mais pesado e triste do que os outros, já que você é teletransportada para a mente em branco e preto de uma pessoa depressiva.

Este foi o livro dela que eu menos gostei - o humor de Marian Keyes está lá - mas o foco principal é a doença, então não é mesmo o que você espera de um livro de chick lit. Mas para quem quer entender melhor o que é depressão (de verdade, não quando você acorda triste e quer comprar um monte de sapatos e comer chocolate), vale a pena ler esse livro.

23 de dezembro de 2012

The Guernsey Literary and Potato Peel Pie Society

Editora Dell - Capa Roberto de Vicq de Cumptich
"A Sociedade Literária e da Torta de Casca de Batata de Guernsey" é  um retrato maravilhoso de uma pequena comunidade pós a ocupação alemã da ilha de Guernsey no canal da Mancha. A história é tão singular e os personagens, carsmáticos, que você deseja que eles existam, e seus filhos e netos estejam vivos por aí até hoje como uma lembrança viva do que se passou.
 
O romance é espitolar, ou seja, tudo o que lemos são as cartas que os personagens trocam, numa época que não havia a pressa da comunicação instantânea, e embora você ficasse curiosa em receber logo uma resposta - ou conhecer pessoalmente o outro! - tudo era feito com mais calma, o que, por sua vez, tornava comum que visitas durassem semanas quando uma viagem realmente acontece.
 
É triste saber que não teremos mais livros como esse, pois a primeira autora, Mary Ann Shaffer, faleceu. Ela era idosa quando escreveu esse livro, e precisou da ajuda da sobrinha, Annie Barrows, para finaliza-lo.
 
Uma nota final: o livro não tem a receita da torta de casca de batata que eles faziam durante a guerra, mas há algumas receitas na internet, e eu pretendo testar alguma um dia!

21 de dezembro de 2012

Maus

Editora Companhia das Letras - Capa: Art Spiegelman e Louise Fili

A história de um judeu na II Guerra Mundial, em quadrinhos, onde judeus são ratos e alemães são gatos. Inusitado, não? Art Spiegelman realmente encarou um desafio e tanto ao escrever a história do seu pai nesse formato diferente. Em uma parte de "Maus", em que ele se permite a metalinguagem, Spiegelman reconhece que não é fácil transpor todo um relato de guerra e dor para o formato de quadrinhos - que pode aparentar ser tão superficial e leve. 

No entanto, Art Spiegelman conseguiu a proeza de fazer um livro lindo, emocionante, tão real - que você não vê desenhos de ratos (mesmo que muito bem feitos), mas sim um panorama da crueldade da II Guerra Mundial de causar arrepios. Com quase 300 páginas, o livro flui e marca o nosso coração, até pelos toques de humor ao mostrar como o autor lida com seu pai, muito velho e muquirana, morando nos Estados Unidos. 

Esse livro só caiu nas minhas mãos agora, mas ele não é recente: a sua primeira parte foi publicada no início da década de 70. Se você ainda não leu, eu recomendo, recomendo, recomendo. 

17 de dezembro de 2012

Barba Ensopada de Sangue

Editora Companhia das Letras - Capa Alceu Chiesorin Nunes
Como título, "Barba Ensopada de Sangue" é uma imagem muito forte para se visualizar... Então, ao começar a ler esse livro, eu esperava algo como clube da Luta, cheio de socos e violência. Mas logo me surpreendi com uma narrativa muito mais humana de Daniel Galera, um autor jovem brasileiro. Existe a expectativa sim do personagem principal levar a tal da "coça" na barba que ele começa a deixar crescer no começo da história, mas tanta coisa acontece no meio tempo...

O tal dono da barba sai de Porto Alegre depois do suicídio do pai para investigar a morte do avô em Garopaba, mais de 30 anos depois, que ocorreu em uma situação suspeita. Ele é personal trainer, e sua característica mais marcante é que ele tem uma deficiência neurológica que o impede de memorizar e reconhecer fisionomias.

O que eu mais gostei, com certeza, é o quão moderno e próximo esse livro é - além de se passar no Brasil, óbvio - ele é super recente, acontece ao mesmo tempo das enchentes que assolaram Santa Catarina poucos anos atrás. O vocabulário, a sociedade, as circunstâncias, estão logo aí, praticamente jornal de antes de ontem - interessante demais ver literatura saindo tão quentinha do forno! 

6 de dezembro de 2012

Jornal Nacional - A notícia faz história

Editora Jorge Zahar
A morte de Oscar Niemeyer me fez pensar sobre os mecanismos do jornalismo. Aos 104 anos, não era uma questão de desejar sua morte, mas que ela estava cada vez mais próxima, isso era um fato. Então, quando ela se efetivou, todo um conteúdo já estava pronto: especiais, coletâneas de fotos, entrevistas, o obituário em si. Era uma questão de tempo, então por que não deixar pronto? Daí eu lembrei desse livro, Jornal Nacional - A notícia faz história, dos 35 anos desse telejornal que praticamente todo mundo no Brasil conhece... Nem que seja pelo seu o "Boa Noite".

Esse livro, do Projeto Memória Globo, conta um pouco dos bastidores, e goste ou não da Globo, é interessante descobrir como essa máquina funciona. E como é delicado tomar a decisão para fazer o obituário do "chefe", o jornalista Roberto Marinho, sabendo que esse dia chegaria, mas não querendo passar uma imagem errada...

Gostei de ter lido - e alguma coisa ficou na memória, mesmo anos depois. Foi uma leitura sem julgamentos, sabendo que os autores com certeza foram parciais, mas em tudo pode-se ter um Q de verdade...

3 de dezembro de 2012

The Importance of Being Earnest


Eu nunca tinha lido nada do Oscar Wilde - ou assistido algo dele no teatro - e "A Importância de ser Prudente" foi uma surpresa deliciosa. É um livro muito engraçado, curto e dinâmico, fácil de imaginar como pode ser divertido de ver encenado. Realmente, dá vontade de ler outras coisas do autor.

Eu já tinha gostado do título quando eu entendi o trocadilho em inglês - prudente é tradução de "Earnest", que também é um nome próprio - e esse é o sentido literal, irônico, em toda a obra: a importância de ser nomeado Earnest, ou Prudente.

Quem não encarar ler, não pode perder a oportunidade de assistir... Aliás, se alguém assistiu o filme, e acha que valeu a pena, deixe um comentário...

25 de novembro de 2012

A nova Califórnia e outros contos

Editora Unesp
Esse livro saiu de graça, diretamente do projeto da prefeitura de São Paulo, De mão em mão, que distribui livros em pontos de grande circulação da cidade, como terminais de ônibus. Não é preciso cadastro nem nada, é só levar o livro, com o compromisso de não ficar com ele, mas passar para frente ou devolver no mesmo ponto de distribuição. 

Eu não lia Lima Barreto desde a época do vestibular, então ler "A Nova Califórnia e outros contos" foi como uma redescoberta do autor, e seu humor refinado, ironia fina seja através dos personagens ou da narração. São histórias curtas, recortes de relacionamentos de poder em todos os níveis (destaque para a história "Como o 'homem' chegou" de uma expedição de um carro forte para buscarem um preso em Manaus).

É uma oportunidade incrível de acesso a boa literatura, numa edição bem cuidada com um glossário no final para explicar as palavras que já caíram em desuso, e uma lista das bibliotecas da cidade, mas eu ainda quero acreditar que um livro desse gabarito vai incentivar mais a leitura da população em geral do que livros mais populares e de qualidade duvidosa, infelizmente...


13 de novembro de 2012

O deus das pequenas coisas

Editora Companhia das Letras - Capa Jeff Fisher

Um livro belíssimo: "O deus das pequenas coisas", de Arundhati Roy. Essa autora indiana reuniu personagens incríveis, uma história emocionante e uma forma de narrar tão poética para fazer um livro de ir lendo com o lápis na mão, marcando trechos, ou virando pequenos cantos de página, para voltar e ler e se encantar novamente.

A história prende, mas tanto pelo belo uso das palavras, como pela narrativa não linear (ela brinca "pulando"  entre dois momentos principais da história), não é um livro de ler batido, correndo. É um livro de curtir, apreciar, surpreender-se até com a boa tradução feita, que não causa aquele mal estar da "legenda que não consegue traduzir a piada".

Ele foi lançado há cerca de 15 anos, e foi um grande sucesso, mas se você não o leu naquela época, recomendo fortemente ler agora!

6 de novembro de 2012

O romance de Teresa Bernard

Editora Saraiva

Algumas pessoas podem conhecer a autora desse livro, Maria José Dupré, da sua obra Éramos Seis, que foi uma novela bem popular anos atrás. Mas a edição que eu li já mostra a idade dessa obra "O romance de Teresa Bernard", ao identificar a autora apenas por "Sra. Leandro Dupré"...

Quem conta a história é a própria Teresa, e ela é uma órfã rica da sociedade paulista, a família tem muito dinheiro provavelmente vindo das fazendas no interior. Muito bonita e, de certa forma, mimada, ela pode ser bem chatinha ao longo da narração. O engraçado é que, mesmo se passando na década de 30, algumas discussões femininas da época continuam até hoje (atenuadas, é claro): divórcio, o papel da mulher no casamento, e o que se faz se é chato conversar só sobre filhos e coisas de casa entre mulheres, enquanto homens tem "assuntos mais variados".

O que eu achei interessante foi o relato da viagem (de meses! indo de navio...) que a Teresa fez pela Europa: Paris, Nice, Londres e um tour pela Itália: ela conta sobre museus, avenidas, praças, restaurantes, hotéis, e muito do que é citado permanece lá até hoje, da mesma maneira. É bom de ler para quem quiser planejar uma viagem para aquelas bandas, ou para quem lembrar como foi...

2 de novembro de 2012

Pequena Abelha

Editora Intrínseca

Eu escolhi esse livro pela capa e pelo título. Achei bonita a imagem, as cores, e achei o título musical: "Pequena Abelha", mesmo em inglês: Little Bee. Depois vi na contracapa que era a história de duas mulheres que se encontram de uma maneira inusitada, mas que eles não iam contar mais nada porque o interessante é como você vai "descobrindo" o enredo. Ok, vamos lá.

Primeiro, é de se admirar que o autor, Chris Cleave, tenha se colocado como narrador em primeira pessoa na pele de uma mulher. É preciso muito talento para isso, muita percepção do sexo oposto, e pode ser isso (ou as personagens fora do comum mesmo), que me levaram a um certo estranhamento durante a leitura, mas o livro é curto, desses de ler em dois dias, porque realmente envolve quem está lendo.

Eu não vou estragar a surpresa de quem quiser ler o livro - mas dá para adiantar que não é uma história corriqueira, pelo menos uma das personagens é totalmente fora da realidade de pessoas como eu. E a trama também surpreende, do jeito que um soco no estômago pode surpreender (e continuar doendo). Ou seja, não é uma leitura feliz. (Estão avisados.)


28 de outubro de 2012

The perks of being a wallflower

Editora Gallery Books
Quando eu comentei com algumas pessoas que eu estava lendo o livro do filme "As vantagens de ser invisível", o que eu mais ouvi foi: "que filme é esse?", embora ele tenha estreado no cinema esse mês, e conte com pelo menos uma atriz famosa - Emma Watson, a Hermione. Então, se o filme não alcançou um grande público, imagina o livro de Stephen Chbosky, escrito no final da década de 90... Mas pelo que eu pesquisei, ele foi sim um best-seller nos Estados Unidos, e o seu retrato da adolescência estereotipada americana - com sexo, bebidas, drogas e até rock n'roll - chegou a ser proibido em alguns estados.

O livro é uma coletânea de cartas do personagem principal, Charlie, que decide escrever para alguém que ele não conhece sobre sua vida, suas emoções e seus pensamentos. É nítido que o garoto não é normal, tem algum tipo de imaturidade emocional que torna deturpada a sua visão de mundo. E ele chora muito. É um pouco irritante até, o tanto que ele chora, por diversos motivos. (Mas talvez seja eu, um pouco sem coração).

Eu não conheço os outros atores, mas puder ler o livro todo vendo a Emma Watson no papel de Sam, então perdi a vontade de ver o filme no cinema - é como se já tivesse assistido tudo na minha cabeça. Fora que é algo beeeeeeem adolescente, então, se você está próximo dessa época, pode rolar uma identificação e empatia, eu já estou acá pensando "crianças..." :-D Incrível como envelhecer altera mesmo as suas lentes de ver o mundo (e isso não é ruim). 

24 de outubro de 2012

Sócios no Crime

Editora L&PM - Capa designedbydavid.co.uk

Em "Sócios no Crime", Agatha Christie parece decidida a levar seus livros de detetive bem ao limite com a comédia, porque o casal que são os personagens principais dessa série de episódios são amadores e embora levem o trabalho a sério, parecem mais quererem se divertir.

Tommy e Tuppence são casados e são convidados pela Scotland Yard a parecerem os donos de uma empresa de investigação, que parece estar ligada ao crime organizado internacional (sendo que o dono original foi preso), e, para manter a fachada, eles desvendam os casos verdadeiros que aparecem. A brincadeira está justamente que eles procuram imitar o estilo de detetives famosos. Entre eles, Sherlock Holmes e Hercule Poirot, mas outros da literatura europeia e americana ainda em moda na época em que Agatha Christie escreveu esse livro. Eu não conhecia vários deles, mas as notas do texto ajudam a entender as referências, e o entretenimento é garantido.

20 de outubro de 2012

The Grandmothers

Editora Harper Perennial

"As Avós" de Doris Lessing reúne 4 contos bem diferentes da autora, mas todos são de certa forma intrigantes e não nos deixam incólumes. Não dá para não ficar incomodada ou ao menos reflexiva com o que Doris Lessing nos apresenta em suas narrativas curtas, mas, de forma alguma, superficiais.

O conto que dá título ao livro foge totalmente do convencional, embora seja a história de duas mulheres, que se tornam muito amigas, muito próximas, casam, tem filhos e se tornam avós na mesma época. Se isso é tão corriqueiro como pode parecer uma amizade de décadas, por baixo dessa aparência comum há todo um universo...

Eu não sei se posso dizer que eu gostei desse livro, mas sim que eu fiquei instigada por ele - talvez fosse esse mesmo o objetivo da autora, o objetivo da literatura contemporânea de vanguarda... Não colocar panos quentes ou passar a mão na cabeça, mas fazer pensar e questionar a sociedade e seus valores. É sempre bom colocar o cérebro para funcionar.

16 de outubro de 2012

Mammy Walsh's A-Z of the Walsh Family

Editora Penguin

Marian Keyes lançou recentemente mais dois livros sobra a família Walsh - personagens da maioria dos seus livros, um deles um romance propriamente dito sobre Helen ("The Mistery of Mercy Close") e o outro é como um "teaser" de filme, um e-book curtinho: "Família Walsh de A a Z - pela Mamãe Walsh" (numa tradução minha de "Mamy Walsh's A-Z of the Walsh Family").

É uma leitura curta, de uma hora ou menos, mas muito divertida. Está ali pingando de ironia e o humor ácido da Marian Keyes que você pode conhecer de outros livros. Além disso, é uma boa perspectiva unificada dessa família (confesso que eu já me perdi entre tantas irmãs e histórias). Algumas partes são apelativas - é estranho pensar numa mãe - avó falando tanto sobre sexo, mas também é interessante ver um pouco de "gente real" com bons e maus sentimentos de uma forma tão cândida.

Eu sou fã das Walshs, então o segundo livro sobre a Helen é definitivamente um dos próximos da minha lista!

9 de outubro de 2012

Wives and Daughters

Domínio Público - Amazon

O único problema dos livros da Jane Austen é que são seis. Só seis. É possível relê-los a exaustão, claro, mas também é gostoso ler livros diferentes, e, para mim, é aí que entra Elizabeth Cleghorn Gaskell, uma inglesa que viveu alguns anos depois de Austen e escreveu sobre o mesmo cenário: o interior da Inglaterra e seus habitantes, com bastante foco nas mulheres. Eu já assisti uma série da BBC sobre uma de suas obras, Cranford, e o primeiro livro que eu leio dela é Esposas e Filhas (Wives and Daughters).

É um romance mesmo - um livro de 800 páginas e uma história lenta, com os personagens de uma cidadezinha, focando na filha do médico local, sua segunda esposa e sua filha. As duas tem idades próximas, mas são completamente diferentes - o engraçado é que você possa talvez associa-las, ou algumas de suas características, com pessoas que você conhece hoje. Porque sim, o mundo muda, temos máquinas de lavar e as mulheres vão trabalhar fora, pílula e facebook, mas as pessoas continuam sendo basicamente as mesmas.

Elizabeth Gaskell não é Jane Austen, definitivamente, mas o livro tem cara de férias, é um entretenimento leve e delicioso, daqueles que não vão tirar o seu chão, porque sim, você sabe o que vai acontecer, mas é uma delícia viver um pouco com personagens tão simpáticos (sem ironias) e alguns ótimos de odiar.


2 de outubro de 2012

Murder on the Côte D'Azur

Editora San Marco Press
Se o livro é de graça, é para se desconfiar (peguei na Amazon, para o Kindle) - mas eu não esperaria que o título estivesse errado! O livro "Assassinato na Côte D'Azur" só tem mortes acontecendo nos Estados Unidos... Faz sentido? O fato é que algumas cenas se passam ali na Riviera Francesa, algumas em Paris, alguns personagens são franceses, mas o grosso mesmo se passa em Atlanta. Fiquei um pouco decepcionada com isso. E ainda mais com a personagem principal, a tal da Maggie Newberry. 

Eu acho que a autora Susan Kiernan-Lewis quis fazer uma pessoa "normal" investigar um crime, mas a tal da Maggie é meio toupeira para essas coisas (é claro que, se ela fosse esperta, evitaria metade dos enroscos que acontecem, aí não teríamos uma "história), ou seja, eu prefiro os detetives mais tradicionais - e espertos.

Também dá uma agonia em alguns momentos: por que ela não tem um celular? Por que ela não procura no google?? E aí você descobre que a trama se passa na década de 80 e percebe como o mundo mudou nesse meio tempo!!!

27 de setembro de 2012

All's well that ends well

Editora Penguin
Ler Shakespeare no original parece algo complicado, mas não é. A questão é que ler teatro não é tão fácil assim - porque muito do que se passa está nas entrelinhas dos diálogos. É preciso soltar a imaginação, ver a cena, ir conhecendo os personagens e recriando o ritmo e as inflexões das falas para realmente entender a história. É um mergulho num universo diferente que é construído por sua própria mente - enquanto ao assistir uma peça, você mergulha na mente de quem montou aquela história.

Essa peça, "Tudo está bem quando acaba bem", tem uma trama bem simples, resumida basicamente em uma mulher procurando conquistar o homem que ela ama. Parte da história se passa na França e parte da história se passam em Florença e é incrível como poucas referências bastaram para o autor do livro do post anterior para localizar tão bem na Florença atual os lugares em que Shakespeare colocou seus personagens.

Se você leu nada em teatro, vale a pena aventurar-se. Pode não ser o seu estilo favorito (não é o meu), mas vai ser uma outra experiência de leitura, com certeza.

22 de setembro de 2012

The Shakespeare Guide to Italy

Editora Harper Perennial - Capa Milan Bozic
Foi absolutamente irresistível ler um livro com o título "O Guia de Shakespeare para a Itália" - imaginem que o autor, Richard Paul Roe, viajou pela Itália procurando as referências que ainda estão lá nas peças "italianas" de Shakespeare.

Muitos estudiosos acreditavam que ele nunca tinha ido para a Itália, mas escreveu sobre esse país de "ouvir falar", cometendo vários erros (como ir de barco de Verona até Milão, duas cidades não litorâneas). O que Richard Paul Roe provou, através passeios, estudos de geografia e documentos, que o autor bardo não estava errado, ele descreveu exatamente o que viu no século XVI, mostrando também um profundo conhecimento cultural da sociedade da época (e que existia sim uma via aquática entre essas duas cidades, incluindo canais artificiais próprios para a navegação, que é utlizada em Dois Cavalheiros de Verona).

Embora algumas construções e lugares não existam mais da maneira como eram antigamente (como Messina citada em "Muito barulho por nada", que foi totalmente destruída depois de um terremoto e hoje está reconstruída), muito ainda permanece, como os bosques de sicômoros onde Romeu estava em Verona, ou mesmo uma boa aposta para a casa de Bianca e Katherina de A Megera Domada.

Um ótimo livro para levar numa viagem para a Itália e se espantar com o incrível Shakespeare que, além de escrever histórias ótimas, foi atencioso com os seus mínimos detalhes.

17 de setembro de 2012

Mil dias na Toscana

Editora Sextante - Capa Raul Fernandes
Não dá para ler "Mil dias na Toscana" sem ficar com muita fome. Escrito por Marlena de Blasi, chef de cozinha, ela descreve tudo o que cozinha, o que vê cozinhar, o que come na sua temporada na Toscana com o aparente único objetivo de nos dar água na boca. É um tal de falar de pão assado crocante, azeites de produtores locais, carnes marinados nos vinhos, massas caseiras, cozidos, sopas, pecorino, pães com uvas, doces fritos, mascarpone -  e vinho, muito vinho - que é impossível passar incólume. Ela passa algumas receitas, mas eu sei que não será possível reproduzir aqui, sem a carne de javali caçada na hora, os feijões frescos, o forno a lenha ou a fogueira no quintal, os sabores e aromas da Toscana. É preciso agendar uma viagem e ir para lá.

O pano de fundo - sim, porque na Toscana o essencial é a comida - é a mudança que essa americana faz com seu marido italiano da cidade de Veneza para o interior rural e as personagens que eles encontram lá. É uma história real, que começa com eles se apaixonando na meia-idade apesar das diferenças culturais contada em "Mil Dias em Veneza", que eu ainda não li. O inusitado é que não se trata de mil dias realmente, mas o livro faz um ciclo de Verão - Primavera - Outono - Inverno, percebendo que ainda existem pessoas que se acomodam com as estações como se mudassem a dança ritmos diferentes de música. Afinal, há um tempo certo de colher uvas ou azeitonas, recolher castanhas ou trufas, ver renascer as verduras após a temporada branca do inverno. Comida está no centro de tudo, e precisamos aproveitar as coisas boas da vida.

12 de setembro de 2012

Decamerão


A primeira coisa que eu fiquei sabendo sobre Decamerão é que era um livro da idade média proibido pela Igreja Católica (o famoso Index). Mas também é um clássico da literatura mundial, então eu fiquei interessada em ler, claro.

O livro reúne 10 jovens, 7 mulheres e 3 homens, que fugiram da peste que se espalhava pela Europa e, todo fim de tarde, cada um contava uma história - isso por 10 dias. Então, o livro é grandinho, mas são mil contos curtos. O fato é que eles eram muito realistas para o século XIV, mas dificilmente vão escandalizar qualquer jovem adulto do século XXI (e sim, claro, alguns realmente tem conteúdo sexual).

Além disso, não é uma daquelas obras difíceis de ler só porque tem quase 700 anos. Se houver oportunidade, mesmo se não for ler inteiro, vale a pena ver alguns desses contos de Boccaccio para conhecer um pouco da cultura italiana, ou melhor dizendo, europeia da época feudal.

7 de setembro de 2012

O avesso da vida

Editora Companhia das Letras - Capa Jeff Fisher

A proposta desse livro é inusitada: a cada capítulo, a narrativa volta e muda um ponto crucial da história, que é o que dá vontade de fazer com a nossa vida, às vezes - não em escolhas, mas em fatos grandes - o que aconteceria se fulano não tivesse morrido?

Se fosse só isso, o livro seria simplesmente uma viagem, mas o autor Philip Roth resolve mergulhar nas questões de identidade judaica, e aí, para o leitor brasileiro, o livro se torna realmente uma viagem. O núcleo principal são de judeus norte-americanos, mas há também uma viagem para Israel e para a Inglaterra, e há uma reflexão e discussão sobre o papel e a posição dos judeus no mundo, do ponto de vista de diferentes personagens. A história se passa cerca de 30 anos atrás, então, está muito mais próxima das guerras que consolidaram o território de Israel no pós-guerra.

Esse foi a leitura do clube do livro, e realmente não houve muita empatia, apesar dos pontos interessantes que ele pode aborda. Parece que há outros bons livros desse autor (super prestigiado nos Estados Unidos), mas acho que ele vai demorar para voltar a minha lista de leitura.

2 de setembro de 2012

So much for that

Editora Harper - Design por Kate Nichols
Eu posso dizer com certeza que esse é um dos livros mais depressivos que eu já li em toda minha vida. "Tempo é dinheiro", numa tradução meia-boca para "So much for that" consegue colocar tanta desgraça junta, que, em certo momento, não dá para saber se alguém - ou se você mesmo - irá sobreviver. Eu comecei a ler, parei, voltei, parei, voltei e - finalmente - acabei de ler. Como a própria autora, Lionel Shriver, diz em seus 10 motivos para ler esse livro o final é alegre em certo sentido, então há esperança para quem está lendo. (É um spoiler não específico, mas em certos momentos você precisa saber que há uma luz no final do túnel, senão é realmente insuportável.)

O livro escancara em suas páginas assuntos familiares complicadíssimos: uma criança com uma doença degenerativa genética incomum, uma esposa com um câncer raro de mortalidade alta, um idoso que quebra uma perna e vai para um asilo por falta de quem tome conta. Mas isso não é o suficiente, porque o ponto é justamente o dinheiro e quanto vale uma vida. O quanto você pode pagar de hospitais, asilos, médicos, procedimentos, remédios para manter alguém vivo? Mais do que você pode, o que você deve pagar? É um assunto extremamente delicado, e apresentado pela autora de uma maneira crua e direta. Realmente de entristecer - até pela proximidade: o câncer, o idoso, estão logo ali, do nosso lado, entre nossos amigos, nossos familiares e quem sabe um dia, até nós mesmos. Como nós iremos agir?

Por outro lado, eu refleti também sobre o que a nossa fé (ou nossa concepção de mundo que seja) pode mudar muito a maneira como encaramos as adversidades que acontecem em nossa vida. Esses personagens, em sua maioria, não tinham nada a se agarrar - o que acontece depois da morte, porque estamos aqui, qual o próposito da nossa vida. E eu não posso evitar pensar que, por eles não terem boas respostas para isso, o mundo estava tão branco e preto nos momentos de crise.

É um livro dolorido, tenso, embora tenha sim seus momentos leves e divertidos (raros, na minha opinião), mas é daquele tipo que não vai deixar você incólume.

28 de agosto de 2012

A Bíblia Toda, o Ano Todo

Editora Ultimato - Capa Douglas Lucas
Há muitos devocionários publicados por aí, que, basicamente, são uma compilação de textos curtos sobre a Bíblia para serem lidos diariamente. As diferenças de "A Bíblia Toda, o Ano Todo" são essa proposta ousada (de passar pela bíblia inteira em um único ano) e ter sido escrita por John Stott, um dos maiores estudiosos contemporâneos da Bíblia (que morreu recentemente).

O interessante é que ao invés de começar a lê-lo em janeiro - ano novo, devocional novo - o ideal é começar a ler em setembro, porque aí os textos chegam no Natal justamente com o nascimento de Cristo (sim, a ênfase é bastante cristocêntrica até na quantidade de texto sobre o A.T.) e na Páscoa com a ressurreição.

Eu li faz alguns anos, mas a minha dica é para você arranjar esse livro agora mesmo, e começar essa jornada diária no próximo mês.

23 de agosto de 2012

O Óbvio Ululante

Editora Companhia das Letra - Capa João Baptista da Costa Aguiar

Eu demorei muito para começar a ler Nelson Rodrigues. Ele faria 100 anos hoje, e eu escolhi essa semana para ler o livro que me atraiu no sebo: uma compilação de suas crônicas , "O Óbvio Ululante". Elas foram selecionadas de 1967-68 das crônicas diárias que ele fazia para o jornal Globo. Então, eu não conheci o autor de teatro, mas - talvez - a pessoa em si.

Nelson Rodrigues é chamado de "Uma flor de obsessão" e isso fica bem aparente, porque os temas são repetitivos. Ele gosta de voltar no assunto que o intriga, às vezes repetindo frases inteiras, mas alterando o contexto ou o gancho para chegar lá. Ele é extremamente crítico a respeito de algumas pessoas - ou até instituições, como jornais e sindicatos - mas me enternece a maneira como ele valoriza os amigos, principalmente, Hélio Pellegrino, presença constante. Ou quando ele fala de amor: "Sempre escrevo que todo amor é eterno; e, se acaba, não era amor."

Ele escreve como se estivesse conversando, puxando um assunto que leva em outro, e fazendo comentários do tipo: "O que eu queria dizer mesmo era...", "abro um parênteses", o que o aproxima muito do leitor - além de ter uma variedade expressiva de assuntos (apesar de alguns se repetirem bastante) como política, cultura, teatro, futebol, sociedade, amor, trabalho e principalmente comparações entre "hoje" e quando ele era "menino" - é alguém que não se conforma pela perda da valorização do idoso em contrapartida do "Jovem", imatura e inexperiente. Ele é muito mais conservador e nostálgico do que o autor que eu imaginava para peças pornográficas ou violentas. Realmente foi uma agradável surpresa.

Depois desse início, com certeza, Nelson Rodrigues vai voltar para a minha lista de leituras... 

PS: Quem também viu primeiro a expressão: "o óbvio ululante que pulula nas mentes humanas" no gibi da Mônica?

19 de agosto de 2012

Descanse em paz, meu amor

Editora Ática
"Descanse em paz, meu amor" é um livro de suspense de Pedro Bandeira - com vários contos de terror contados pelos personagens num ambiente tenso - uma casa abandonada no meio de uma tempestade, a noite. O grupo de amigos estava fazendo uma escalada, quando foram surpreendidos pela chuva, e precisaram se abrigar.

Os pequenos contos são memoráveis e eu acredito que podem causar uma certa impressão mesmo nos pré-adolescentes de hoje, tão modernos e tão familiarizados com o terror do cinema. Mas a história principal também conta com um mistério, muito bem construído pelo autor.

Pedro Bandeira é um dos maiores autores brasileiros da literatura infanto-juvenil, e embora há muitas obras suas que provem isso, a maior delas é o fato de seus livros terem ilustrado a infância e a adolescência de tanta gente, e serem parte de suas memórias até hoje.

15 de agosto de 2012

A Cruz de Hitler

Editora Vida - Capa Marcelo Moscheta
Talvez você, como eu, já tenha lido mais sobre a II Guerra Mundial do que razoável, pois esse é um tema que realmente permeia muito da literatura ocidental recente - seja do ponto de vista dos alemães, dos judeus nos campos de concentração, dos sobreviventes, dos filhos dos sobreviventes. Talvez você, como eu, fuja um pouco desse assunto, porque é a quantidade de sofrimento gerada por ideologias racionalmente, humanamente, inexplicáveis é tão grande que pode fazer você perder a fome, o sono, ou a fé na humanidade.

No entanto, esse livro me foi recomendado e eu fiquei interessada, como cristã, pela abordagem desse pastor, Erwin Lutzer, em - tentar - explicar o papel da igreja cristã na Alemanha que se formava nazista. "A Cruz de Hitler" é a própria suástica, que, antes mesmo de começar a guerra, já era substituída - voluntariamente ou não - nas igrejas católicas e protestantes do país, segundo os registros históricos citados (e eles são vários).

Em resumo, a igreja foi "levada" a apoiar Hitler ou a se omitir frente às atrocidades cometidas, pelo mesmo motivo que influenciou todo o povo alemão (com honrosas exceções, tanto cristãs como não): as dificuldades econômicas e um discurso de valorização nacionalista toca fundo no coração das pessoas quando a realidade é de escassez e repressão. O que é óbvio, já que a igreja é formada por homens e mulheres, que podem se enganar, errar, pecar. Naquele momento, ela estava errada e ponto, principalmente porque seu comportamento não condizia com o que Deus da Bíblia esperava dos seus seguidores.

O autor também explica porque Deus permitiu que isso acontecesse com o seu povo (os judeus), ou porque, mas amplamente, Hitler existiu e agiu daquela forma, teologicamente falando, numa perspectiva do Deus que é amor. Para esse assunto, e uma explanação mais completa do que eu pincelei aqui, recomendo o livro original, claro (que pode ser controverso em algumas partes - adianto, para explicar que não concordo nem discordo de algumas posições do autor).

10 de agosto de 2012

Capitães da Areia

Editora Record
Jorge Amado faria 100 anos hoje, e embora não esteja mais vivo, ele realmente viveu bastante (até quase os 89 anos) e a sua obra é com certeza imortal. Com a fama fundamentada de ser um legítimo baiano - gostar de sossego e uma boa rede, ele soube retratar a cultura da sua sociedade de uma maneira peculiar. Muito da imagem que o resto do Brasil tem desse estado vem dos seus livros, que viraram filmes e novelas, entrando praticamente em todo lar brasileiro.

Capitães da Areia, que eu li há alguns anos, é um romance urbano, que acompanha a vida de meninos de rua, alguns bem crianças mesmo, largados, livres, sem pais, vivendo numa família improvisada de quem só tem os amigos. A história se passa na década de 1930, e muito mudou de lá para cá - as políticas sociais, os direitos humanos, a forma de governo, mas talvez não as crianças de rua.

Eu não gosto particularmente do estilo de Jorge Amado, mas acho interessante conhecer essa sociedade que ele apresentava, seja da cidade, do interior, particular da bahia, ou geral do mundo inteiro.


5 de agosto de 2012

Our Mutual Friend

Editora Wordsworth
É claro que eu acabei de ler esse livro e estou altamente impressionada, e você pode argumentar que é uma escolha precipitada, mas posso dizer que o meu personagem preferido de Charles Dickens é Jenny Wren, do livro "Nosso amigo comum"? Ela é totalmente adorável, e eu ficava alegre toda vez que ela aparecia na história, para ver seus comentários perspicazes e engraçadinhos, sua visão de mundo que traz muito do que ela é, uma história que entendemos aos poucos, através da sua relação com seu "filhinho" (na internet, descobri que há trabalhos de psicologia inteiros a partir dela). Jenny também tem uma profissão muito peculiar: é estilista de boneca - ela vê os vestidos na saída dos teatros e na entrada das festas, e reproduz com perfeição em suas pequenas clientes, que são muito apreciadas na sociedade londrina. Jenny Wren é um amor e eu me apaixonei por ela, um dos pontos altos desse enorme livro.

"Nosso amigo comum" é a última obra completa de Charles Dickens, e foi publicada em capítulos ao longo de 18 meses, e eu achei o começo bem lento - vários personagens são apresentados com detalhes, várias histórias são abertas, como sempre, sem muito explicar para o leitor como elas vão se entrelaçar lá na frente. Logo em seguida, estamos torcendo para o mocinho e a mocinha, com raiva de outros personagens, totalmente envolvidos com a vida dessas pessoas. Justamente por ter personagens muito reais, Dickens faz críticas a sociedade inglesa e uma discussão sobre a relação com o dinheiro e os valores humanos, algo extremamente atual em qualquer lugar do mundo capitalista.

Para completar, é esse mesmo que Desmond, de Lost, carrega para cima e para baixo para ser o seu último livro antes de morrer. Vou dizer, pessoal, que ele realmente precisava ser avisado com antecedência sobre a a ocasião, porque ele tem 500 páginas. Mas é para morrer feliz.

* Eu li esse livro no Kindle, em inglês, de graça. Não conheço versão em português desse livro, infelizmente.

31 de julho de 2012

Diário da Queda

Editora Companhia das Letras - Capa warrakloureiro
O fato é que eu quis ler "Diário da Queda" porque foi um dos livros mais premiados do ano passado e não errei na escolha. Michel Laub escreve primorosamente, usando o recurso de fluxo de pensamento mas sem deixar confuso e sem parecer que está nos manipulando - embora ele esteja fazendo isso sim. Para usar uma imagem, é como se estivéssemos num redemoinho, primeiro dando voltas mais lentas e largas, depois aumentando a velocidade - a emoção - a medida em que nos aproximamos do meio, no caso, o final do livro, e o momento em que conhecemos por inteiro o autor e seus conflitos.

Logo no começo, percebe-se que o tema do livro não é simples: preconceito entre judeu e gói em Porto Alegre, e o narrador, judeu, é descendente de um sobrevivente de Auschwitz. Mas há tantos fatores envolvidos, os personagens são tão complexos e humanos, que fica difícil reduzir o tema a esse ponto, como aparenta ser. 

O livro não é longo, não é apelativo, não é complicado, mas é surpreendente, emocionante e denso. Tenho um aperto no coração toda vez que lembro da história, e mesmo não sabendo julgar literatura como aquelas pessoas que premiaram esse livro, sei que essa capacidade de emocionar já é um bom motivo para ganhar prêmio (e muitos leitores, eu espero).

27 de julho de 2012

A Divina Comédia

Editora 34

Há muitas referências na cultura ocidental atual ao livro "A Divina Comédia". Muitas pessoas podem falar do que se trata, entendem o adjetivo "dantesco", ou podem até citar cenas - mas a maioria delas não leu e nem tem intenção de ler a obra original, mesmo que traduzida. Afinal, literatura em poesia não é lá uma leitura muito amigável, ainda mais quando foi escrita em outra língua, em outra linguagem, 700 anos atrás.

Eu li na minha adolescência, uma edição antiga (mas não secular, é claro), com o texto original em italiano em paralelo e belamente ilustrada. Não foi uma leitura fácil, mas foi muito bom ter esse contato com o clássico de Dante Alighieri e ver as descrições impressionantes dos castigos no inferno, o que o povo fazia no purgatório e como era o céu, na viagem que o personagem faz até a sua Beatriz (e perceber claramente que a história não condiz com o nosso entendimento atual sobre "comédia").

(Vale a menção que a Beatrice de As Desventuras em Série é uma clara referência a essa Beatriz, na ironia que é costumaz a Lemony Snicket).

Se eu releria hoje? Tem tanto livro no mundo... Mas para aproveitar melhor a história, eu procuraria uma versão, organizada em parágrafos, com boas notas, para fluir mais suavamente. Quem sabe um dia?

23 de julho de 2012

Uma nova visão do amor

MG Editores - Capa Alberto Mateus
Flávio Gikovate é um psiquiatra que direcionou sua carreira para relacionamentos amorosos, elaborando teorias sobre o amor, sexo e afins e ajudando na prática milhares de pessoas através do que ele chama de terapia breve. Além de ter um programa de rádio semanal chamado "No divã com Gikovate", ele tem muitos  artigos e livros publicados, então é muito difícil você não ter esbarrado num texto dele por aí - ou mesmo numa novela que ele participou - mas talvez não ligue a pessoa a esse nome que eu cito aqui.

Interessada como sou pelo tema, escolhi começar a ler sua obra através do livro "Uma nova visão do amor", do começo da década de 90, mas revisado recentemente. É engenhoso ver como ele racionaliza o que nós acostumamos a chamar de sentimento, " que não dá para explicar e não faz sentido", de maneira lógica que nos faz pensar: "mas será que não é isso mesmo?" ao lembrarmos de amigos e amigas que encaixam direitinho no que ele está dizendo, ou mesmo até a gente...

Como teoria, Gikovate já deixa claro que o livro é a sua proposta do que melhor encaixa ao que ele vê acontecendo nos relacionamentos humanos. Talvez por isso que o "amor ideal" ou "+amor" que ele apresenta no final me parece o que é mais utópico e desconectado da realidade.

Ele diferencia bem um amor saudável de um problemático, que levará quase que certamente ao fracasso / divórcio, mas não apresenta soluções para esses problemas. De qualquer forma, o auto-conhecimento sempre pode ser um primeiro passo para se desenroscar de uma relação complicada e procurar mares mais tranquilos. 

17 de julho de 2012

Great House

Editora W. W. Norton & Company
A primeira impressão sobre esse livro foi um estranhamento com relação ao título em inglês, Great House (Casa Grande) e o título em português: "A Memória de Nossas Memórias". Por que, oh!, por que a tradução foi tão criativa?

Aí que se começa a ler o livro, e então tudo fica mais confuso, você não sabe quem está falando, há parágrafos de outras histórias sendo intercalados no discurso principal, e há evidências de pulos no tempo além de no espaço... O que aparentemente conecta tudo é uma escrivaninha monstruosa (no tamanho), com diversas gavetas pequenas e grandes, que alguns personagens possuem por um tempo e passam para outra pessoa. Organizar linearmente o trajeto da escrivaninha é um desafio, e só no clube do livro, em que outras pessoas tomaram notas e nós trocamos ideias, conseguimos chegar a um esquema que talvez resolva o mistério, mas é definitivamente um livro aberto.

Mas tirando esse ponto que, dependendo do seu ponto de vista, pode ser frustrante ou intrigante, a autora Nicole Krauss apresenta relatos de relacionamentos humanos muito tocantes, como o marido que descobre o segredo da esposa depois de sua morte, o pai que não sabe se comunicar com o filho, a mulher que não se conecta com o marido, a mãe que dá o filho para adoção. Por esses pontos, vale a pena.

Quanto ao título, quando ele é explicado (lá pelo final do livro), entende-se o nome em inglês e em português... Mas não, claro, porque não colocar o nome que a autora escolheu.

9 de julho de 2012

A jangada de pedra

Editora Record / Altaya

O ponto de partida de "A Jangada de Pedra" é algo bem surreal: a península ibérica se desconecta da Europa e sai navegando, na falta de termo melhor, pelo Atlântico. Assim, sem aviso prévio ou explicações científicas, o fato é que a fronteira com a França rachou e o que era uma península se transformou numa ilha - eppur si muove, como diria Galileu.

No meio disso, Saramago junta 5 pessoas, cada uma com sua própria dose de fantástico:  um homem que sente o solo tremer, uma mulher que fez um risco no chão que não se apaga, outra que desfaz um meia de lã azul num fio que não se acaba, um homem perseguido por uma revoada de passarinhos e um homem que jogou uma pedra pesada no mar e ela quicou sem ele ter força para isso. Ah, e um cão que parece bem esperto.

A história não se apresenta de maneira direta assim, mas ela vai se construindo e cada vez mais envolvendo você nessa realidade tão surreal - em que a geografia faz sentido, a sociedade faz sentido, mas meia dúzia de fatos, não. No entanto, Saramago não é um autor de ficção fantástica por si só, ele é um autor de relacionamentos humanos durante crises e é isso que ele apresenta magistralmente nesse livro. Não é um livro difícil, mas se você gosta de respostas, vale lembrar que Saramago adora perguntas.

4 de julho de 2012

Nick and Norah's Infinite Playlist

Editora Random House Children's Book
Eis que eu adorei esse livro: Nick and Norah`s Infinite Playlist. Adorei de ficar muito triste quando acabou, simplesmente porque eu não ia mais acompanhar os dois personagens principais depois de uma noite muito louca em Nova York, em que eles descobrem a paixão, quiçá, o amor.

Eu também pensei na hora que o livro seria um filme fantástico, mas aí eu errei. O filme existe e chama-se "Um noite de amor e música", e tem a atriz morena de 2 Broke Girls e o garoto nerdinho de Juno, e não é NADA do que eu imaginei. Eles incluíram detalhes nojentos e aumentaram a participação de personagens secundários provavelmente para dinamizar e atrair a juventude, mas eu achei o filme bem forçado, no geral. Perdeu o encanto, principalmente porque não traduziram na tela a sucessão de capítulos escritos do ponto de vista do Nick e da Norah, em que a gente mais sabe o que eles estão pensando e sentindo do que simplesmente fazendo (talvez os dois autores também tenham se intercalado, Rachel Cohn e David Levithan).

Vale o aviso que a história é fofinha, mas há alguns trechos levemente desconfortáveis para os mais tradicionais, nada que realmente tire o encanto desse livro (típica história adolescente, mas com detalhes picantes para agradar os jovens adultos). Recomendo, recomendo! 

30 de junho de 2012

As Esganadas

Editora Companhia das Letras - Capa Victor Burton & AngeloAllevato Bottino
Assim como em "O Xangô de Baker Street", o tema de "As Esganadas" de Jô  Soares são os assassinatos em série "de época", aqui, no Rio de Janeiro de 1938, época de Getúlio Vargas e o mundo pré II Guerra Mundial. E foi exatamente isso que eu gostei no livro: a ambientação da época, as citações sobre as ruas, corrida de carros, transmissões de rádio com propagandas de produtos que seriam inimagináveis hoje (ou não, eu sei).

A história inclui um ex-investigador português com características de Sherlock para ajudar o delegado brasileiro a descobrir quem está matando as gordinhas "esganadas", ou seja, sufocadas com comida. Além de dois personagens mais secundários mas igualmente cativantes, o auxiliar do delegado, um pouco medroso, mas com uma vida paralela bem peculiar e a jornalista - repórter de Assis Chateaubriand - corajosa e petulante.

O livro é puro entretenimento, para ler num sábado a tarde, e se divertir enquanto se descobre junto com os personagens quem é esse serial killer brasileiro que nunca existiu.

24 de junho de 2012

1 e 2 Timóteo e Tito - Introdução e Comentário

Editora Vida Nova
As cartas pastorais do apóstolo Paulo são um ponto levemente fora da curva entre os seus outros escritos do Novo Testamento, pela sua própria natureza: 1 e 2 Timóteo e Tito são cartas pessoais, de um homem mais velho para jovens a quem ele quer bem, com orientações, comentários sobre conhecidos em comum e pedidos - como por exemplo, para pedir sua capa e pergaminhos. Esse tipo de expressão não é normal na Bíblia, e particularmente com relação a Paulo, de quem sabemos tanto de sua vida "missionária" ou desua doutrina através do livro de Atos e das outras cartas, é como se o homem Paulo revelasse um pouco de sua vida pessoal, um vislumbre, é certo, que deu margem a muitas especulações, mas um vislumbre.

Esta introdução e comentário de J. N. D. Kelly é um livro de estudo, em que diversas alternativas para interpretação são apresentadas, trecho por trecho e comentadas. Não é um livro novo, então não é a referência última sobre estas 3 cartas, mas foi interessante como uma visão geral e um ponto de partida para estudos mais aprofundados, se houver vontade.  

20 de junho de 2012

The Downing Street Years

Editora HarperCollins
Que eu adoro a Inglaterra e - quase - tudo relacionado é um fato. Mas o que me levou a ler esse livro da Margaret Thatcher, "Os anos em Downing Street", foi obviamente o filme da Meryl Streep e seu retrato de uma mulher líder, que obviamente eu ainda não assisti, porque já que eu comecei a ler o livro, que eu acabe antes de ver uma versão cinematográfica, certo? E isso demorou várias semanas porque esse livro é enorme e levemente intragável dadas as altas doses de política britânica que contém.

Primeiro, vamos deixar claro que eu não entendo nada de política e tenho bem pouco interesse no assunto, ou seja, não me arrisco a dizer que eu concordo ou apoie as ideias dela, ou que possa julgar suas decisões, mas uma coisa é fato: admiro a sua integridade em seguir suas convicções. Nesse livro, ela apresenta suas ideias de conservadora aparentemente pura (no sentido capitalista da coisa) de maneira aplicada em todas as situações que enfrentou como primeira ministra: da greve dos mineiros a disputa das Falklands, das negociações bélicas com a URSS a negociações econômicas dentro da Comunidade Europeia, no trato com a dissidência na Irlanda do Norte às privatizações de praticamente tudo.

Embora ela fale muito sobre sua atuação política, o que eu gostava era quando seu lado feminino aflorava - num comentário sobre a roupa para um evento  ou a decoração da residência oficial na Downing Street. Também achei interessante o fato de ela se preocupar em dizer que a Rainha não tem uma posição de fachada somente, Thatcher fazia reuniões semanais com ela, e disse que não tem como não valorizar a experiência de alguém que esteve tão perto do poder por décadas.

Gostei de aprender um pouco sobre o panorama mundial na década de 80, sabendo que se trata de uma versão da história completamente parcial. Mas é história, que construiu com certeza esse mundo como conhecemos hoje.

16 de junho de 2012

A vida é um jogo

Conrad Livros - Capa JR Ferraz

Ler quadrinhos é um passatempo na sua definição mais clássica: passa o tempo, de maneira leve e descontraída. Nesse livrinho, todas as histórias da turma de Charlie Brown são relacionadas a esportes, mas principalmente basebol e patinação no gelo - bem americano.

Se você considerar que os personagens de tirinha estão "presos no tempo", não crescem, não envelhecem, não mudam de situação, é interessante como a infinididade de situações pode espelhar a vida de todos nós, mesmo, e talvez principalmente, adultos. Charles M. Schulz, assim como outros autores de quadrinhos, tem essa virtude em seus trabalhos, de ao apresentar algo breve, leve, também vão direto ao ponto de expor aspectos particulares dos relacionamentos humanos.

Ou seja, é possível  encarar como passatempo ou como análise da sociedade, mas com certeza, é para se divertir.

10 de junho de 2012

Para sempre

Editora Alfaguara - Capa Victor Burton
Fazia tempo que eu não me apaixonava a primeira vista por um livro, como esse, da Ana Maria Machado: "Para sempre". Olha o começo do livro:

Pode chamar de amor eterno. Tem muita gente que chama.
Com mais frequência em poemas, novelas e romances do que ensaios. E isto não é um ensaio. A rigor, também não é uma novela. Mas numa época que vem abolindo cada vez mais as distinções entre os gêneros masculino e feminino, também é natural que as fronteiras entre os gêneros literários deixem de existir. Chamemos, portanto, de amor eterno.
Claro que depende do que se entende por eterno. E por amor.

Eu simplesmente adoro narrador que conversa com o leitor - pode ser de maneira mais direta,  chamando de "você" e fazendo perguntas ou dando sugestões (como Brás Cubas), ou assim, num diálogo mais sutil, que pode parecer uma voz na sua cabeça costurando o pensamento, ou uma conversa entre amigas - daquelas compridas, que se aprofundam e se superficializam sem perder o tema condutor.

E nesse caso, o tema também é um dos meus preferidos: o amor. Sem teorizar muito, através de histórias "de gente de verdade", pouco romantizadas, mas românticas em si, a autora apresenta a sua tese sobre o amor que é para sempre, o tal do amor eterno.

Eu que conhecia a Ana Maria Machado da literatura infantil, já estou empolgada para ler outros livros da sua literatura adulta - esperando que todos sejam lindos como esse. Acredito que não vou me decepcionar...

6 de junho de 2012

Pollyanna

A prima Letícia Waller comentou sobre o livro Pollyanna, um clássico de Eleanor H. Porter, no blog / novo negócio dela, e eu resolvi compartilhar aqui com vocês!

Companhia Editora Nacional
Eu escolhi a dedo a minha segunda leitura de 2012, na verdade foram duas releituras que eu fiz questão de fazer para me lembrar do que é importante na minha vida e de como eu quero vivê-la daqui pra frente. O primeiro, “Amor além da razão” de John Ortberg fala do amor que Deus tem por nós, sua criação, e foi um livro que mudou muito o modo que eu encarava a minha fé até uns 10 anos atrás, e o segundo, Pollyanna de Eleanor H. Potter, foi um livro que eu li a nada menos do que 30 anos atrás e foi o primeiro que me influenciou a ponto de querer ser uma pessoa melhor.

Engraçado como hoje em dia a expressão “dar uma de Pollyanna” é usada pejorativamente para descrever uma pessoa muito feliz, uma otimista boba que não consegue ver o lado ruim da vida. Eu só posso concluir que quem pensa assim nunca leu o livro, pois a pequena heroína é tudo menos boba. Ela pode ser ingênua, concordo, mas sabe muito bem porque o seu pai inventou esse jogo que nasce na verdade de uma profunda tristeza e de uma realidade muito dura, pois Pollyanna era muito pobre, filha de um missionário que já tinha passado por momentos tristes depois da morte da mãe que não aguentou ao perder outra criança no parto. Um dia ao receber as doações que viam numa barrica, ela “ganha” um par de muletinhas ao invés da sonhada boneca que ela tanto queria. É ai que nasce o jogo do contente e nasce também a que pra mim é uma das melhores técnicas de auto-ajuda que alguém já inventou. O jogo consiste simplesmente em achar um motivo para se ficar contente com qualquer situação. Veja bem, o uso da palavra aqui é muito importante: é o jogo do contente (em inglês: the glad game) e não o jogo do feliz. Estar contente é estar satisfeito com o que se tem, é analisar a situação claramente e se esforçar para encará-la da melhor maneira possível. Ficar feliz é fácil, mas ficar contente é algo que requer um esforço consciente.