30 de novembro de 2011

Memorial de Aires

Machado de Assis, o autor
De vez em quando, é ótimo voltar aos clássicos da literatura brasileira, para mudar de tom, de linguagem, ir para uma época diferente, mas aqui nesse mesmo lugar. Principalmente para aqueles autores que você aprende a apreciar, como o Machado de Assis. Para isso, é preciso transpor a barreira da linguagem e perceber sua ironia, a caracterização dos relacionamentos humanos e da sociedade ao seu redor. É muito bom!

Esse Memorial de Aires ainda é um caso especial de leitura, porque eu baixei do site que o MEC fez para os 100 anos do Machado de Assis em 2008, com sua obra completa para download em pdf, ou para ler na internet em html. Para ficar mais fácil, eu converti e li no kindle, e aí era só alegria...

Memorial de Aires é o diário do Conselheiro Aires, um diplomata aposentado durante o período um pouco maior que um ano morando no Rio de Janeiro, em que o foco é a Viúva Noronha (sim, o personagem é chamado assim), muito jovem ainda, que, com a mãe morta e o pai fazendeiro, é "adotada" com carinho por um casal sem filhos, os Aguiar. Logo em uma das primeiras cenas, Aires aposta com a irmã, mana Rita, que a Viúva Noronha vai se casar em um ano, enquanto a irmã acredita no que a própria fala, que nunca se casará novamente.

A história é simples, poucos personagens, com o próprio Aires comentando sobre o que acontece e a sua vida, uma leitura leve e distrativa.

26 de novembro de 2011

Dear John

Hachette Book Group
Este é terceiro livro que eu leio do Nicholas Sparks e o estilo fica cada vez mais evidente. Histórias com uma alta carga emocional, em que há o romance mas também algum conflito paralelo de outro gênero, um personagem paterno terá certo destaque, e, claro, por que não?, uma lição de moral. Em "Querido John", há também um componente fortemente contemporâneo, que é queda das torres gêmeas e a guerra do Afeganistão.

Eu pensei em assistir o filme depois que eu li o livro e tive a "sorte"de falar com duas pessoas que não gostaram dele, então, oras, deixa para lá... Só pela capa do livro, cartaz do filme, dá para saber que algumas modificações foram feitas, já que a Savannah do livro é morena (descrita especificamente com cabelos escuros) e lá temos a Amanda Seyfried loiríssima. De qualquer forma, podem não ser as alterações do filme que o tornam chato, mas justamente alguns pontos da história que não criam empatia com o leitor... Por exemplo, eu nem me emocionei a ponto de chorar...

E aí vem os spoilers...

Na história, John e Savannah se conhecem, se apaixonam instanteamente, se identificam como "o amor da minha vida". A questão é que ele está servindo ao exército por mais 1 ano e meio na Alemanha, então eles precisam ficar separados. A ideia é ele acabar o serviço e ela a faculdade, para depois ficarem unidos para sempre. Depois, acontece 11 de setembro e ele resolve se alistar por mais 2 anos, ou seja, mais tempo de espera do qual, obviamente, ela cansa e manda a tal da carta do Querido John. Nesse processo, ela se apaixona por alguém mais perto e acessível, com o qual ela se casa. Ele, porém, nunca deixa de amá-la. (E esse é o meu comentário sobre amor: você decide amar. E parar de amar. O frio na barriga sempre passa. E volta periodicamente. Ou não. Mas o amor pode ficar).

 Por mais que a gente possa torcer para um final entre os dois, principalmente quando o marido dela fica super doente, e você, amoralmente mesmo, espera que ele morra para que o pobre do John tenha sua chance, isso não acontece. O tal do John dá toda sua fortuna (parte da trama paralela) para que o cara tenha um tratamento experimental que, claro, funciona. E pronto. John para um lado, Savannah para outro, e teoricamente um amor entre eles que dura para sempre independente do que houver, e, infelizmente, não é o que queremos ver num romance. Acho que se um deles morresse, a gente teria a mesma sensação de falta de saciedade, mas com uma justificativa boa, não só o fato de que ela cansou de esperar e casou com o vizinho amigo sem ter por ele o mesmo sentimento que ela uma vez nutriu pelo John ou sem ao menos perder o sentimento que teve por ele.

Fiquei com uma impressão meio assim desse livro mesmo, um misto ... O que vocês acharam?

22 de novembro de 2011

Eu, aos pedaços

Editora Leya - Capa Mariana Newlands
Mudando completamente de estilo das últimas leituras, peguei esse livro de crônicas de Carlos Heitor Cony da minha prima de 15 anos, que precisou ler para a escola. Trata-se literalmente do autor aos pedaços, são várias de suas crônicas, organizadas por temas, para que possamos ter um panorama da sua vida - sua infância, seu trabalho, suas viagens, seu breve envolvimento com a política, sua família e amigos.

No entanto, o autor é um melancólico, então tudo se arrasta e parece estar em preto e branco. NADA recomendado para adolescentes atuais! Ok para a iniciativa de trazer algo mais moderno para a sala de aula, mas um livro com o qual é difícil criar empatia não vai incentivar em nada o prazer da leitura.

No meu caso, que já gosto de ler, passei pelo livro incólume em minhas convicções e com duas partes das quais mais gostei:

- Personagens: retrato feito de algumas pessoas famosas com as quais o autor teve contato: Glauber Rocha, Nelson Rodrigues, Adolpho Bloch, etc, com algumas anedotas, trouxe-me mais curiosidade a elas do que ao próprio autor do livro, que parece insistir em anular-se de certa forma.

- Viagens: relatos curtos e não convencionais de lugares como Roma, Jerusalém, Andaluzia, Mikonos, que só aumentaram minha vontade de viajar mais pela Europa!

18 de novembro de 2011

Crepúsculo

Editora Intrínseca
A febre em relação a série Crepúsculo (e sim, eu me refiro a todos os livros como "Crepúsculo") chega a um novo auge hoje com a estreia da parte I do filme referente ao último livro. (É um filme em duas partes ou são dois filmes?) Aguardem ver grande partes das salas de cinema passando Amanhecer - parte I, longas filas e, se for repetir o que aconteceu com Harry Potter, até algumas pessoas fantasiadas.

Toda essa sensação (digamos, modinha) recente com relação a vampiros teve início com esses 4 livros da Stephanie Meyer, lançados a partir de 2005, e até que está resistindo bem a medida que outros autores embarcaram nessa onde de reinventar o mito dos vampiros de forma a atingir um público específico.

Bem específico aliás: garotas entre 12 e XX anos, que se encantam com o conto de fadas moderno, em que o príncipe não só é bonitão e rico, mas também misterioso e dotado de super poderes. Escrito exatamente para arrancar suspiros e criar sonhos nessas mentes, que pode ser bem gostoso, mas podem chegar a um ponto que eu não acredito nem ser saudável, já que, como algumas críticas divulgadas na internet comentam, Edward e Jacob não existem por aí, e não é só pelo fato de eles serem criaturas lendárias.

Quando eu li o primeiro livro em 2009, tinha certeza que eu ia precisar de insulina. O livro é doce, tão doce, tããããoooooo melaaaaaaaado, que eu realmente achei que ia desenvolver diabetes. Mas ele é fácil de ler, vai super rápido, cria curiosidade a respeito dos personagens, um certo encantamento, e os títulos são tão legais (adorei a brincadeira com a lua e as noite), que eu continuei lendo, claro. A história vai ficando interessante a medida em que a gente se posiciona: "Essa Bella é uma idiota, como ela pode fazer isso??", "Quero só ver o que o Jacob vai fazer", "Não acredito nesse Edward!!!" e alguns: "Ai, que fofo". Esse ano, até virei uma noite das minhas férias para reler Amanhecer só para saber se eu lembrava de como a história se desenrolava (sim, é um livro para ser ler em um dia).

Eu realmente gostei mais do último livro, até porque a autora realmente chutou o balde e chegou a níveis estratosféricos de imaginação, deixando o mito do vampiro para lá, mas por outro lado, ele também é um pouco desapontador. (Atenção, spoiler até o final desse parágrafo: é frustrante principalmente para os namorados e maridos que possam se deixar arrastar até o cinema esperando ao menos umas lutinhas boas).

Li todos os livros, vou assistir a todos os filmes, mas para mim, Crepúsculo foi uma febre que veio e passou - não me animei nem para ler os livros da mesma temática (ou os que eu li, não me agradaram muito, como "Diários de Vampiro"). A série é boa para se alimentar de fantasia e conto de fadas - mas só para depois sacudir a poeira e ir encontrar seu príncipe da vida real.

13 de novembro de 2011

Middlemarch - Um estudo da vida provinciana

Editora Record
Eu adoro histórias da Inglaterra no século XVIII e XIX - por essa afirmação, entenda-se Jane Austen e Charles Dickens. Quando eu vi esse livro para vender, Middlemarch, um tijolo de quase 900 páginas de George Eliot, contemporâneo a esses meus escritores favoritos, por uma verdadeira pechincha (12 reais), não resisti a levar para casa e esperar que um momento oportuno de leitura se apresentasse.

Aí eu descobri que George Eliot era um pseudônimo de Mary Ann Evans e aumentei ainda mais minhas expectativas - em ler um romance delicioso. No entanto, ao começar a ler, fiquei decepcionada - um pouco pelo estilo da autora e um pouco pela tradução (palavras rebuscadas e antiquadas, frases longas, muitas tramas paralelas em que os personagens eram apresentados com muitos detalhes). Foi muito difícil encarar as primeiras 150 páginas, então deixei o livro de lado e achei Guerra dos Tronos, e só depois de superar a minha dependência direta aos livros de George. R. R. Martín, consegui voltar para esse tijolinho (que provou porque custava tão barato ao ir descolando da lombada por pura manipulação de leitura).

Depois o enredo me ganhou, sendo o estudo realmente das relações humanas de uma pequena vila, as interações sociais entre os diferentes tipos, e mesmo os relacionamentos conjugais que se apresentaram. O olhar de George Eliot é realmente mordaz para nos levar a realidade de uma sociedade que não mudou tanto assim em sua essência nos últimos 200 anos. (Mas confesso que considerei exageradas as descrições do conhecimento médico da época e da situação política, contudo sempre há quem se interesse!)

Eu gostei particularmente de algumas passagens sobre o comportamento feminino e conjugal, que eu anotei para compartilhar com vocês.

"Deste modo, os primeiros meses de casamento são com frequência tempos de tumulto crítico - seja num lago raso ou em águas profundas - que depois se acomodam no regozijo da paz."

Dorothea, ou Dodo é uma jovem viúva sem filhos. Celia é sua irmã, casada com Sir James, mãe de um bebê novinho, Arthur. Os próximos trechos se referem a momentos entre Dorothea e Celia, depois da primeira passar uma temporada com a segunda, que está absolutamente encantada por seu filho. 
"Depois de três meses, Freshitt se tornara um pouco opressiva: não daria certo sentar-se por várias horas do dia, como um modelo de Santa Catarina, a olhar em êxtase para o bebê de Celia, e manter-se em presença deste portento com desinteresse persistente era uma atitude que não iriam tolerar numa irmã sem filhos. Dorothea bem que seria capaz de carregá-lo alegremente por até mais de um quilômetro, caso houvesse necessidade, e de amá-lo com mais ternura ainda, tendo em vista o esforço; mas para uma tia que não reconhece como Buda seu sobrinho infante, e nada tem a fazer por ele, a não ser admirá-lo, o comportamento de um bebê pode parecer monótono, e o interesse em observá-lo, esgotável."

"Agora, Dodo, dizia Celia, ouça o que diz o James, porque senão você cai numa enrascada. Sempre o fez, e sempre o fará, quando resolve agir como lhe agrada. Acho que agora é afinal uma benção que tenha o James para pensar por você. Ele deixa você ter os seus planos, somente lhe impede de enredar-se neles. E esta é a vantagem de ter um cunhado ao invés de um marido. Um marido não deixaria você ter os seus planos."

Engraçado, não? Imagine-se num mundo desses!

9 de novembro de 2011

Melancia

Editora Bertran Brasil
Melancia foi o livro que me introduziu ao mundo da chick lit - literatura para garotas, com personagens e dramas contemporâneos. Eu o li anos atrás, e adorei o humor ácido e irônico da personagem principal Claire. O título já é uma referência a si mesma, grávida, e a narrativa começa no dia em que sua filha nasce e o marido a abandona porque está tendo um caso com a vizinha...

Com esse livro, eu virei fã da Marian Keyes que consegue fazer histórias engraçadas, românticas, dramáticas, sem cair no banal: fazer compras - arranjar um namorado - emagrecer (não necessariamente nessa ordem, claro). Esse livro apesar do ponto de partida crítico, prende a leitora logo de cara (não sei de homens que lêem esses livros, mas devem existir por aí), e flui que é uma maravilha. Entretenimento puro, como toda chick lit de qualidade.

Chick Lit está muito associada a minha amizade com a Debô, aniversariante do dia. Ela gosta, eu gosto e isso resulta em livros desse tipo fazendo a ponte aérea SP-RJ tão regularmente quanto possível. Com certeza, ela já leu vários dos livros desse blog por conta disso - já que assim como o meu, o gosto dela não se restringe a esse tema. É tão bom ter uma amizade assim, de anos compartilhando histórias, aventuras, alegrias e tristezas e muitos, mas muitos livros mesmo! Que continue assim por várias décadas! Parabéns, Debô!

5 de novembro de 2011

Something Borrowed

Editora St. Martin's Griffin
Em inglês, existe a expressão: "something old, something new, something borrowed, something blue" ou "algo velho, algo novo, algo emprestado, algo azul", que a noiva deve levar no casamento para ter sorte. O título desse livro, e também um filme, perdeu parte da graça e do sentido quando traduzido para o português, e virou: "O noivo da minha melhor amiga". Mas aí dá para entender quem está "emprestando" algo sem saber é a própria noiva, e se trata do noivo para a sua melhor amiga.

O que é mais difícil é que há todas as justificativas possíveis: a amiga e o noivo se conheceram antes e eram amigos, depois ele começa e namora por anos a amiga, que na verdade é uma egocêntrica não tão amiga assim, eles sentem coisas que nunca sentiram antes por mais ninguém. Mas existe a preocupação em magoar a noiva, terminar a amizade e ficam meses de impasse...

O que eu não entendo, e nunca entendi mesmo, é como alguém acha que esconder que engana uma pessoa traindo-a com outra (sendo namoro ou amizade) é uma forma de proteção a essa "terceira". Eu acredito que a pessoa só quer se resguardar de um conflito e de ter que aceitar as consequências, geralmente públicas, de terminar um namoro ou uma amizade, para ficar com quem "se ama". (E "amor" entre aspas mesmo, porque eu acredito que amor não se esconde). 

Esse assunto é mega polêmico e eu só queria compartilhar a indignação com a qual eu li o livro ao acompanhar esse triângulo amoroso. O final é esse mesmo que você imagina, super previsível, mas eu achei um pouco decepcionante, como um antí-clímax mesmo. Alguém assistiu o filme e gostou?