Companhia das Letras - Capa: Victor Burton |
Caros leitores e leitoras, isto é literatura com L maiúsculo: aclamado pela crítica e desconhecido pela população em geral. Ou: quem já tinha ouvido falar sobre Robert Walser, o autor suiço que tanto influenciou Kafka, a ponto de dizerem sobre esse último que esse era só um caso particular de Walser? (No entanto, ou talvez por isso, é "A metamorfose" que lemos na escola.)
Este é o próximo livro do meu clube de leitura, e por isso que ele caiu em minhas mãos. É uma leitura de dois dias, mas isso não quer dizer que ela seja simples - é complexa principalmente do ponto de vista psicológico. Nesse diário do Jakob Von Gunten, vamos descobrindo sobre sua vida e seu ambiente através de pensamentos e fatos narrados sem que haja uma pausa para explicar as circunstâncias, ou que haja alguma dúvida que sim, estamos lidando com um narrador parcial e não onisciente, e essa é a sua visão particular do mundo - estamos usando seus olhos e sua mente para ver, por mais estranho que nos pareça a realidade através dos olhos de outrem tão diferente de nós.
O ambiente em questão é uma escola para moços se tornarem serviçais. Então vemos Jakob, a admiração que ele sente por Klaus (o aluno mais dedicado e humilde, com mais vocação para servir) que não o impede de o atazanar pelas mesmas razões, a paixão (se eu posso dizer isso) que ele tem pela mestra, e o estranho relacionamento com o irmão desta última, que também é o diretor da instituição Benjamenta.
Este livro é daqueles para estudar, analisar por trechos, identificar as críticas a socidade, a moral e a ética correntes, destrinchar os relacionamentos humanos e tudo o mais - mas eu simplesmente o li. Considerei a história muito integrante, assim como a experiência de conhecer a intimidade de outro ser, mas não tenho análises profundas a oferecer. Um dos trechos que eu mais gostei, é corriqueiro de tudo: a descrição dos alunos "prestando atenção" numa aula, em que tudo é postura e aparência, quando provavelmente a mente está longe, longe... Isso sim, é algo que muitos de nós, de tantas idades diferentes, pode se identificar.