30 de novembro de 2010

Foi Apenas um Sonho

Continuando a série livros-de-filmes-que-eu-não-assisti e livros-alugados, aí está Foi apenas um sonho, do escritor americano Richard Yates.

Para começar, o livro é de 1961, e chama-se Revolutionary Road, algo como "Estrada Revolucionária", que é o endereço do casal da história. O livro chamava-se Rua da Revolução, até chegar o filme, e rebatizá-lo nessa nova edição com os fofíssimos Leonardo DiCaprio e Kate Winslet.

Posto esses detalhes técnicos, que nos fazem concluir que, embora envolva alguns arranhões, o cinema pode sim levar alguém a literatura, eu já digo que o livro é ótimo.

Um amigo disse que assistir o filme com a namorada é DR (discussão de relacionamento) na certa, mas o livro pode gerar debates sobre a cultura, a época (década de 50), e, claro, relacionamentos. Sinceramente, eu não sei o quanto o relacionamento de Frank e April refletem os relacionamentos atuais, acho que muito pouco, porque o fator principal ali é como eles encaram a realidade que vivem, os amigos, a sociedade, o trabalho, a carreira, e tudo isso mudou muito.

O papel da mulher mudou, são poucas as que ficam em casa, e muitas vezes isso se ficam não é por opção. A maioria das pessoas, principalmente os homens com nível superior (para não aumentar muito o universo da amostra e falar besteira), se importam com sua carreira, em atingir resultados melhores e salários maiores, "sucesso".

A situação no livro é totalmente diferente: Frank arraja um emprego para constar já que a mulher fica grávida no começo do casamento. Dez anos e dois filhos depois, ela propõe que eles mudem para a europa, onde ele lutara na guerra na década anterior, que ela trabalharia para sustentar a família e ele tenta "se encontrar".

Bom, esse é um resumo bem sem vergonha, porque realmente esse blog não é para resenhas profundas - mas a história é densa, e o retrato psicológico dos personagens é complexo.

Vale notar também que a prosa do autor é muito visual, descrevendo com detalhes as expressões, os trejeitos e o comportamento em geral dos personagens - é quase como se nós pudéssemos vê-los! (E para quem assistiu o filme, nem precisa desse exercício de imaginação, eu suponho, hahahahaha)

27 de novembro de 2010

Quem me roubou de mim?

O autor desse livro é o padre Fábio de Melo, como diz meu marido: o padre que canta - e eu completo não o Marcelo Rossi. Um amigo da Igreja me recomendou o livro, e como eu nunca nego empréstimo, li essa semana.
O assunto que ele trata é difícil como demonstra o subtítulo "O sequestro da subjetividade e o desafio de ser pessoa". E subjetividade, pessoa, relações símbólicas, diabólicas, etc, são conceitos que ele passa no livro, baseada numa tal de Antropologia Teológica Cristã. Ele avisa logo no começo que o livro é difícil e que é para perservar, e esse é um conselho útil.
O livro é complicado e a linguagem dele não ajuda, pomposa demais para um livro que se quer de auto-ajuda de amplo alcance. Eu realmente tive dificuldade de acompanhar o raciocínio.
Além disso, para um padre, e um livro cristão, eu achei que tinha muito pouco Deus nessa história, é bem humanista no meu entendimento. Resumindo: se você tem relacionamentos ruins com as pessoas, a culpa é sua que dá permissão para isso (o tal do sequestro da subjetividade), mas se você quiser, você muda e melhora, dispõe de si mesmo e dos outros e vira pessoa, com relações simbólicas, que são pontes. Simples assim. Deus? Ele se manifesta na criação. Jesus? Foi capaz de estabelecer relações simbólicas.
Bom, o Fábio de Melo cita histórias e fala sobre o fracasso de relacionamentos, que são fatos reais na vida de muita gente. O que me parece é que ele observa os fatos, mas dá explicações complexas (talvez acadêmicas demais para um público leigo) e uma alternativa de solução muito desconectada de uma vida espiritual para alguém que é padre.
Esse livro não atendeu as minhas expectativas, e eu não tive identificação com suas ideias, mas acredito que deve fazer sentido para algumas pessoas sim.
Como eu gosto de dizer, é bom sempre exercitar ver do outro lado, mesmo que você não concorde com ele. Ler livros é uma maneira muito simples de alcançar universos e dimensões diferentes, e como eu gosto disso! (Só assim para a transição de Ozzy para padre ser tão simples).
Obrigada, Gustavão, pelo livro. E te vejo no céu caso não o veja antes!!!

24 de novembro de 2010

Eu sou o Ozzy

Não gosto de Black Sabbath. Não gosto de heavy metal. Aliás, não gosto de nenhuma música que o ser pareça estar gritando. Pior, gritando fino.
Mas acabei lendo esse livro. E gostando. Por quê?
Simples - marketing bem sucedido. Recebi um livreto com alguns capítulos e me interessei - mas não, caros leitores, não o comprei. Foi alugado mesmo.
O cara é louco, desde pequeno, e de uma infância pobre foi fácil cair na marginalidade (ele chegou a ser preso) e depois tentar a vida num emprego não convencional - cantor de banda, o que um dia viria a ser o Black Sabbath. Daí, é claro, uma vida de rock star clássico, muitas bebedeiras, drogas e mulheres.
O livro é em 1a pessoa, e logo no início, ele já avisa: depois de várias substâncias ilegais e legais, de cigarro, cerveja a cocaína e vicodin, é claro que a memória dele não é lá essas coisas, então pode ter vários erros e confusões nas histórias. Tranquilo, ainda é tudo muito divertido.
O que é surpreendente, ao menos para mim, é que ele não era satanista - as músicas e álbuns com referências ao diabo começaram como uma forma de chamar atenção e ninguém da banda seguia essa onda. Então quando eles começaram a ser cultuados e chamados para rituais, eles não gostava não. Eles gostavam mesmo era de cerveja.
O Ozzy deixa claro que não acredita em Satanás ou no Diabo, talvez alguma força da natureza.
Que irônico, não? Porque mesmo não tendo a intenção, sendo de brincadeira, muita gente deve ter sido má influenciada por eles.
Muito triste.
Ele conta também que se se arrepende de toda violência, principalmente por ter batido nas esposas (duas, inclusa a Sharon). Ele disse que essa culpa ele vai levar para o túmulo que tem coisas que não tem perdão.
Isso também é muito triste - principalmente para quem tem um Deus que perdoa.

Além disso, ele tem uma incrível tolerância a drogas, se tudo que ele conta é verdade mesmo, porque ter feito tudo aquilo sem nenhuma overdose ou algum outro tipo de consequência fatal, é bizarro.
Entre essas constatações e algumas risadas, por ele ser tão hipocondríaco, por ser tão sem noção, por ele ser tão autocrítico, por ele retratar um cenário rock que já mudou, eu recomendo. Vida real, ou quase, para ler pensando!

20 de novembro de 2010

Mais comédias para ler na escola

É o quarto livro do Veríssimo no ano - ainda bem que ele produz bastante para sempre ter algo legal para a gente ler. É uma coletânea de crônicas sem censura, e eu realmente ficaria feliz se as escolas do Brasil a fora estivessem adotando literatura desse nível em seus currículos. Provavelmente teríamos mais leitores do que atualmente...
Em Conversas sobre o tempo, Luis Fernando não considera como literatura os seus livros, é mais algo para entretenimento. Não sou expert, mas sei que existe muita coisa por aí que não é nem literatura e nem entretenimento e ainda faz muita gente ganhar dinheiro (por favor, cada um nesse momento crie seus próprios exemplos). Se literatura é arte, os textos do Veríssimo são literatura sim, humor inteligente, atual e bem escrito.
Aí vale o alerta - se você receber um texto muito piegas escrito por ele por email, por mais que você goste, desconfie. Vale mais beber da fonte - seja no jornal de domingo ou nessas coletâneas. Você vai se surpreender com toda diversão que você vai ter...
Esse é o 2o livro alugado da Mundilivros, vale muito a pena para ler de um dia para o outro.

17 de novembro de 2010

Carnaval no Fogo

Provocações entre paulistanos e cariocas é algo bem clichê e eu me vi num fogo cruzado ao começar a falar com pessoas sobre um final de semana na terra do biscoito Globo. Pessoas apaixonadas pelo Rio, pessoas temerosas, pessoas que só sabem de ouvir falar, pessoas que conhecem. E no meio disso tudo, meu amigo carioca exilado, Rubens, me empresta esse livro do Ruy Castro - Carnaval no fogo.
Ele é quase uma crônica bem longa ou uma carta talvez, do autor comentando sobre a cidade amada, seus principais personagens e sua história. Tudo de uma maneira muito leve, descontraída, e obviamente parcial.
O Ruy Castro é um apaixonado em sua pior crise, em que praticamente tudo é maravilhoso. Até os defeitos são considerados benefícios, ou então diminuídos frente às inúmeras qualidades listadas.
O que é um pouco irritante, é claro, mas cegueira de paixão é assim mesmo...
No entanto, ele também conta a história do Rio de Janeiro, desde o momento em que ele foi "descoberto", os indígenas, os primeiros portugueses, as invasões francesas, e por aí vai até a redescoberta do bairro da Lapa, ou seja, poucos anos atrás. É a história do Brasil, no detalhe, que às vezes a gente nem sabe porque não dá tempo de ensinar na escola.
Gostei muito de ler para entender melhor o fascínio por essa cidade maravilhosa, e a sua importância no e para o Brasil. Paulistanos, leiam sem preconceito. E por favor me avisem se alguém já fez algum livro parecido por São Paulo, minha terra querida também.

15 de novembro de 2010

Twenties Girl

Não tem jeito, eu adoro chick lit, livros para garotas fáceis e rápidos de ler. Esse eu até pensei que ia ser meio estranho - afinal é sobre uma garota que vê o fantasma da tia avó, quando ela tinha cerca de 20 anos (sendo que a mulher morreu com 104) - mas é bem bonitinho.
A tal da tia avó que é a "Twenties Girl", algo como a garota dos anos 20, e que está surpresa com o que o mundo se tornou - um monte de gente usando umas calças grosseiras azuis, "uma cor horrorosa". A questão é que a fantasminha está procurando um colar com uma libélula (esse da capa) e quer que sobrinha neta o encontre para que ela seja enterrada, ou melhor, cremada com ele. No meio do caminho, ela quer que outros desejos intermediários também sejam satisfeitos, e ela os pede com bastante teimosia.
E essa é a parte que eu achei muito interessante: por influência da tal tia avó, a garota (com seus quase 30 anos) faz coisas que nunca faria: como chamar um bonitão desconhecido para sair, se vestir com roupas dos anos 20 para ir a uma  festa importante do trabalho, e dançar no meio do bar. Tudo aceito com a prerrogativa: "E daí? eu não conheço essas pessoas que vão ver isso mesmo. Eu não ligo para o que eles vão pensar." Veja bem, ela não estava cometendo crimes, ela só estava fazendo coisas fora das convenções sociais. Para ela, agir diferente, acaba sendo libertador. Nós somos tão oprimidos pela sociedade mesmo? Mais do que pela nossa própria consciência? Ou é isso que chamam de senso comum mesmo?

Recomendo o livro, ele não é nem de perto filosófico assim, hahahahaha, mas eu gosto de histórias que me fazem pensar sobre o comportamento humano... Obrigada, Ju, pelo empréstimo!

13 de novembro de 2010

Conversa sobre o tempo


Confesso que só quis ler esse livro por causa do Luis Fernando Veríssimo, que é um fofo - principalmente nas capas da editora Objetiva, com desenhos que também faz a decoração do bar Veríssimo em São Paulo (pronto, fiz propaganda, volta a ela no final).
O livro são diálogos entre ele, Zuenir Ventura (amigo há anos, ele escreveu 1968 - muito interessante) e o autor Arthur Dapieve (que eu não conhecia). É como ler uma revista de fofoca: os temas das conversas - Família, Amizade, Política, Morte - levam os três a comentarem episódios de sua vida e seus posicionamentos. O Luiz Fernando é de poucas palavras, então quem fala mais é o Zuenir Ventura, mas eu gostei muito mesmo assim, é um livro num formato totalmente diferente. (Todo em falas e travessões, mas diferente de ler teatro. É mais fácil porque não tem "ação" acontecendo, importa só o que está sendo falado).
Uma das coisas que eu mais gostei - embora eu pudesse citar o LFV várias vezes - é quando eles falam de seus casamentos bem sucedidos de quase 50 anos. O que é raro, certo? Eles estão felizes e nem um pouco amargos. Dá gosto de ver, o jeito que eles citam as esposas como parte muito especial da vida deles (e de não se imaginarem viúvos de jeito nenhum). Falando sobre amizade, depois de uma vida inteira (os dois tem mais de 70 anos), eles disseram que as que ficam são principalmente as amizades de casais - como por exemplo: o casal Veríssimo amigo do casal Ventura. Por que será?

Por fim, outra propaganda: esse é o primeiro livro que eu aluguei na Mundilivros, e até agora, com o 2o livro já aqui em casa, estou adorando o serviço.  Sempre fui fã de biblioteca, mas trabalhando aqui em SP, achar alguma fora do horário comercial é bem complicado (as do metrô não são no meu caminho). Assim, "pegar" o livro pelo site, e esperar ele chegar na porta da sua casa, é ótimo! Recomendo - mas para quem lê bastante. Faça as contas: a mensalidade deve ser menor do que o custo dos livros se você os comprasse.

11 de novembro de 2010

As Brumas de Avalon

Lá pelos meus 14 anos, a tia Helô, muito querida, me entregou uma edição velhinha de Brumas de Avalon (não essa da foto), também em 4 volumes, e disse: "você tem que ler esse livro". Olha, era sobre o Rei Artur, magia, não fui muito com a cara não. Mas depois de começar a ler o primeiro livro, foi paixão. E passando rapidamente para o segundo, comecei um "clube do livro", e a Fér foi a próxima a ler, passando para a Ania e para não lembro mais quem.
E nós, um grupo de amigas (já chamado de Clube da Lulu), adoramos o livro, falávamos e discutíamos sobre ele, nos identificávamos. Naquela época de ICQ, adotamos os apelidos de acordo com as personagens que nos foram mais simpáticas, ou que mais tivemos identificação: a Ania virou a Morgana, Anacarol era Raven (se não me engano), a Fér era Dierna, e eu era Sianna (estas duas últimas de outro livro: A Senhora de Avalon que se passa antes de Brumas, e eu acabei comprando na época).
Porque, mais do que sobre o Rei Artur e magia, acredito que Brumas é um livro super feminista, que mostra a atuação da mulher apesar de uma socidade machista, como ela pode exercer um poder diferente do homem, às vezes mais sutil e "dos bastidores". Era o Girl Power das Spice Girls com mais cérebro, eu diria.
Esse discurso todo fala muito com a garota adolescente, está relacionado a auto-estima. Esse livro foi importante para a gente, mas está relacionado com uma época da nossa vida, que passou. Acho que nenhuma de nós leu de novo. (Mas é interessante ver que esse livro pode significar muito mais para outras pessoas, como a Cláudia, da Vaquinha Gertrudes, que agora tem uma filha chamada Morgana).
Mais do que isso, "Brumas" para mim está marcado como um aspecto da nossa amizade: de ler junto, conversar, discutir, analisar sempre nosso papel como mulher, nossa vida, desde aquela idade.
Por isso, esse post é para dar os Parabéns para as Anas e celebrar a amizade de todas nós. Feliz aniversário, garotas! Que venham mais eventos, livros, conversas e análises por aí!

9 de novembro de 2010

Kidnapped

Editora Geddes & Grosset

Robert Louis Stevenson é um autor de clássicos - A ilha do tesouro e O médico e o monstro. Esse livro dele, Raptado em português, não é tão conhecido, mas é mais parecido com o primeiro - uma história de aventura, "um clássico infantil para garotos". (Eu comprei uma coleção de 5 livros com esse nome na bienal desse ano. Em 2008, eu comprei a coleção "para garotas").
Parece um livro infantil mesmo, ou melhor adolescente, do século XIX. Tem piratas, lutas, disputa por herança, brigas de clãs, mas tudo de uma maneira bem inocente.
Nesse livro, David Balfour descobre que tem um tio que roubou a herança de seus pais só depois da morte deles. O tio, ameaçado pelo súbito sobrinho, dá um jeito de ele ser rapatado para ser  vendido como escravo na América - mas um passageiro inusitado do navio o ajuda a fugir (depois que o navio naufraga). Esse é Allan Breck Stewart, que a wikipedia me diz que existiu de verdade, e os dois fogem juntos pela Escócia depois de serem injustamente acusados de assassinato.
Preciso contar o fim?
De qualquer forma, esse é um livrinho difícil de ler em inglês pelo vocabulário todo estranho - de navegação, cultura local e de época - mais de 100 anos atrás. A história em primeira pessoa é contada em linguagem culta, mas muitos diálogos são cheio de sotaque e gírias para representar os personagens simples. E aí vale a dica da Debô, grande amiga aniversariante do dia de hj (parabéns, debô!!!): ler alto.
Afinal, o que seria "nae"? "Mair"? Mas lendo "Say nae mair" é fácil identificar o "say no more"...

2 de novembro de 2010

A elegância do ouriço

Editora Companhia das Letras - Capa Kiko Farkas e Elisa Cardoso

Esse livro é bem diferente dos últimos que eu tenho lido: com uma linguagem sofisticada, os personagens são muito mais elaborados e ele é ponteado por discussões filosóficas. No começo, é preciso insistir. O autor se coloca "dentro" da cabeça das duas personagens principais, e acompanhá-las não é nada simples. Com a entrada de um terceiro personagem, o ritmo se apressas, as coisas começam a acontecer - e pronto, o livro lhe conquistou.
Reneé, uma concierge (um tipo de zelador) em um prédio chique em Paris, é autodidata, adora arte, filosofia e literatura, e observa os seus vizinhos com olho clínico. Ela se esforça para não escapar do estereótipo de concierge, agindo como boba e não deixando transparecer sua rotina de ler, visitar bibliotecas e assistir filmes cults e não acompanhar nada da programação da TV. Ela possui uma amiga faxineira portuguesa, Manuela, que é uma personagem deliciosa e divertida.
Paloma, uma garota de 12 anos, filha de um político socialista, uma mãe perdida em medicação antidepressiva e uma irmã universitária riponga, ela é extremamente inteligente e desiludida do mundo, então ela começa 2 diários: um de pensamentos profundos e outro sobre movimentos do mundo, para deixar para a posteridade antes de colocar fogo no apartamento em que mora (no prédio da Reneé) e se matar.
O terceiro personagem é um senhor japonês que se muda para o prédio e acaba por mudar a vida das outras duas (e sim, nesse momento que o livro fica bem legal).
Alguns detalhes realmente mostram como livro de literatura é diferente de um blockbuster (por mais que esses útlimos sejam muito divertidos): demoramos dezenas de páginas para descobrir o nome da Paloma (afinal, ela está escrevendo um diário, ela não vira e fala: Oi, eu sou a Paloma, sabendo que existem outras formas de identificar os seus escritos), o livro Anna Karenina é um dos preferidos de Reneé, e ela lê e se relaciona com ele e seu conteúdo, não é só uma citação para significar que a personagem é inteligente e pronto (como em A última música, nas mãos de Ronnie), e no meio da história, há verdadeiras pérolas. A maioria das frases que eu gostei fazem muito sentido dentro do contexto do livro, mas eu vou copiar algumas aqui para vocês sentirem o livro também:

"Se vocês querem compreender nossa família, basta olhar para os gatos."

Teste do texto com a mirabela (uma fruta, mas eu não consegui encontrar referências no google!) Se resistem mutuamente às poderosas investidas, se a mirabela ficasse no intuito de me fazer duvidar do texto e se o texto não consegue estragar a fruta, então sei que estou em presença de uma obra importante e, digamos, excepcional de tal forma que são poucas as que, ridículas e fátuas, não são dissolvidas na extraordinária suculência daquelas bolinhas douradas."

"A gramática é um fim e não somente um objetivo: é um acesso à estrutura e a beleza da língua."

"Vocês são sensíveis à poesia desse termo? Avitualha-se um barco, aprovisiona-se uma cidade. A quem não entendeu que o encatamento da língua nasce dessas sutilezas dirijo o seguinte pedido: desconfiem das vírgulas."

"Tenha só uma amiga, mas a escolha bem."


Esse livro demorou para chegar até às minhas mãos: foi presente da Fér para Ania uns anos atrás, e sou muito grata por ter oportunidade de lê-lo, e mais grata ainda por ter essas amigas de literatura!